Na quarta, dia 22, ao citar a exclusão da Rnest e do Comperj do teste de impairment*, a Petrobras alegou que os projetos foram postergados “por extenso período”.
No caso da UFN III, o nível de detalhamento apresentado pela Petrobras para justificar a decisão é menor, porém o histórico do projeto explica a decisão da estatal de excluí-lo do processo de avaliação do valor recuperável dos ativos.
As obras para a construção da fábrica de amônia e ureia foram interrompidas ainda no final de 2014, e, na sequência, a Petrobras informou a rescisão de contrato com o consórcio responsável pelo projeto ao alegar descumprimento do contrato. O Consórcio UFN3 é formado pela chinesa Sinopec e pela Galvão Engenharia, empresa investigada na operação Lava Jato.
O projeto é avaliado em mais de R$ 3 bilhões e prevê a produção anual de 1,2 milhão de toneladas de ureia e mais de 700 mil toneladas de amônia. Porém, neste momento, a Petrobras decidiu rever o andamento das obras.
– Posteriormente a esta paralisação, a companhia optou por reavaliar seu cronograma de implantação, postergando as ações necessárias à contratação de nova empresa para execução do escopo remanescente, enquanto perdurarem as medidas de preservação do caixa – informou a empresa.
O documento, contudo, não apresenta dados envolvendo a potencial perda da companhia com a postergação do cronograma do projeto, ao contrário do que ocorreu em relação ao complexo de Abreu e Lima e ao Comperj, entre outros.
A Petrobras informou que a perda acumulada com o Comperj e o 2º trem de refino da Rnest soma aproximadamente R$ 31 bilhões, dos quais R$ 21,8 bilhões oriundos do Comperj e R$ 9,1 bilhões da refinaria Abreu e Lima.
A companhia também cita perdas com o Complexo Petroquímico de Suape (R$ 3 bilhões), com a Refinaria Nansei (R$ 343 milhões), com a Araucária Nitrogenados (R$ 260 milhões), além de ativos na área de Exploração e Produção (E&P), o que totaliza o impairment consolidado de mais de R$ 44 bilhões apresentado nessa quarta, dia 22, pela Petrobras – sem qualquer menção específica da UFN III.
Câmbio
O teste de impairment utilizou como premissas uma taxa de câmbio média estimada em R$ 2,85 para os anos de 2015 e 2016, valor revisado para R$ 2,61 no horizonte de longo prazo. Já a cotação do Brent utilizada foi de US$ 52 por barril em 2015 e US$ 85 por barril no longo prazo.
Tais premissas são importantes porque qualquer mudança nessas perspectivas ao final de 2015, quando um novo teste de impairment deve ser feito, pode impactar, positiva ou negativamente, no ajuste contábil anual realizado pela estatal.
No caso dos ativos de E&P, a Petrobras também levou em consideração uma taxa de desconto pós-imposto em moeda constante de 7,2% ao ano, acima dos 6,1% ao ano utilizados em 2013. Já no caso de equipamentos vinculados a atividade de produção de óleo e gás e perfuração de poços no Brasil, a taxa de desconto pós-imposto foi de 8% ao ano – contra 6,6% ao ano de 2013. Para os campos de produção de óleo e gás no exterior, a taxa de desconto oscilou entre 5,4% e 11,2%.
Já para o Comperj e a Rnest, a taxa de desconto pós-imposto ficou em 7% ao ano, contra os 5,8% ao ano projetados em 2013. No caso de Suape, o número utilizado no teste de impairment ficou em 6,2% ao ano, levemente acima dos 6,1% ao ano da análise sobre a Araucária Nitrogenados.
*Impairment é uma palavra em inglês que significa, em sua tradução literal, deterioração. É uma regra segunda a qual a companhia deverá efetuar, periodicamente, análise sobre a recuperação dos valores registrados. Tecnicamente, trata-se da redução do valor recuperável de um bem ativo. Na prática, quer dizer que as companhias terão que avaliar, periodicamente, os ativos que geram resultados antes de contabilizá-los no balanço.