Nessa segunda, dia 6, a presidente da estatal, Graça Foster, em conferência para analisar o resultado divulgado na sexta, 3, defendeu novamente reajuste no preço da gasolina e do óleo diesel.
Como a estatal importa combustível com valor mais alto do que revende, a defasagem de preços é apontada como um dos fatores do prejuízo. A valorização do dólar em relação ao real no primeiro semestre e a permanência do barril acima de US$ 100 (cotação em Londres) agravaram a situação. Graça afirmou que um novo reajuste já está em debate no conselho de administração da empresa.
– Conversamos sobre o reajuste de preços, sim, na busca de 100% da paridade – disse a presidente da estatal.
Recentemente, o governo autorizou aumento de 7,8% no preço da gasolina e de 6% no do diesel, considerados insuficientes para equilibrar as contas da estatal. No caso da gasolina, o aumento não chegou às bombas porque houve eliminação de um tributo. A resistência em permitir novos reajustes estaria ligada à cautela do governo com a inflação e ao temor de desgaste político.
Nos cinco primeiros meses do ano, o déficit comercial da Petrobras com importação de gasolina chegou a US$ 1,4 bilhão, e de óleo diesel, US$ 2,9 bilhões, conforme cálculo da Tendências Consultoria. De acordo com Walter De Vitto, analista do setor de combustíveis da Tendências, a defasagem nos valores no país em relação ao Exterior chega a pelo menos 17%:
– O prejuízo no trimestre passado irá reforçar os argumentos da Petrobras para buscar novos aumentos, e é provável que o governo ceda.
Especialistas que acompanham a Petrobras são quase unânimes em projetar alta dos combustíveis nas bombas. Há quem aposte que o aumento gradativo iniciará após as eleições municipais, mas também se projeta alta apenas no início de 2013.
– O aumento deve ser inevitável, principalmente se o preço internacional dos combustíveis se mantiver no atual patamar – afirma Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos.
Projetos são alvos de críticas
Além da defasagem de preços, investimentos pouco produtivos e a linha de gestão da Petrobras estariam prejudicando a empresa. Conforme analistas do setor, por muitos anos a estatal sofreu com fatores como política industrial e uso como instrumento político-partidário.
– Os prejuízos da Petrobras neste trimestre refletem uma série de políticas equivocadas na gerência da empresa desde 2003, e afloraram agora em função da conjuntura – diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Pires critica a obrigatoriedade de compra de conteúdo nacional e parcerias malsucedidas “com interesses político-partidário”, como uma com a Venezuela para erguer uma refinaria em Pernambuco.
– Muitos investimentos não rentáveis foram feitos no Exterior nos últimos anos, isso compromete inclusive a exploração do petróleo no pré-sal – afirma Fernando Siqueira, vice-presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras.
A chegada de Maria das Graças Foster à presidência, em fevereiro passado, é vista por ambos especialistas como o início de uma gestão mais técnica.
Mercado dá voto de confiança
A desconfiança de investidores quanto à política de gestão da Petrobras estaria prejudicando o desempenho das ações da empresa. Desde a mais recente capitalização da companhia, em setembro de 2010, que motivou a entrada de pequenos investidores com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), as ações já caíram 23%. Carlos Müller, analista da Geral Investimentos, projeta que os títulos da Petrobras ficarão abaixo do Ibovespa neste ano:
– Estamos recomendando que nossos clientes troquem ações Petrobras por opções com mais possibilidade de ganhos. Para quem tem dinheiro do FGTS aplicado na estatal, no entanto, a recomendação é de que mantenha, pois a remuneração do fundo é de apenas 3% ao ano mais Taxa Referencial – diz Müller.
Nessa segunda, após abrir em queda de 5%, as ações da Petrobras reduziram as perdas e fecharam o pregão praticamente estáveis. Os papéis começaram a inverter a curva depois que a presidente da companhia, Graça Foster, expôs os motivos do prejuízo de R$ 1,346 bilhão no segundo trimestre, em conferências com investidores e analistas.