Depois de uma safra histórica, com a melhor performance em mais de 20 anos, o clima volta a tirar o sono dos produtores do sul do Piauí. Depois de três safras sob a incidência do La Niña, a volta do fenômeno El Niño acende o alerta com a possibilidade de volume menor de chuvas, com precipitações mal distribuídas na região.
No ciclo 2022/23, a produtividade média da soja foi de 3.600 quilos/hectares, com talhões chegando a render mais de 5 mil quilos/hectare. A performance do milho de verão, que ainda está sendo colhido, supera 11 mil quilos de média.
Ao lado da queda no preço das commodities, o clima é assunto recorrente em todos as esquinas e estandes da ExpoSoja 2023, feira agropecuária que ocorre até sábado (13) no distrito de Nova Santa Rosa, município de Uruçuí, no Piauí.
Por outro lado, para fazer frente às adversidades que se anunciam, as empresas de tecnologia presentes no evento – são mais de cem expositores – apresentam soluções com a promessa de mitigar os possíveis efeitos nocivos de um clima desafiador.
Meteorologista aposta em neutralidade climática
O meteorologista Luiz Carlos Molion prefere apostar na neutralidade. “Particularmente não espero nenhuma seca grave, nem uma grande seca para o Nordeste”, diz ele, contestando previsões sobre um possível super El Niño. Para o trimestre abril/junho, Molion prevê chuva acima da média.
Já o mês de outubro, segundo ele será mais seco, com um novembro normal e dezembro acima da média. No início do ano, de janeiro a março, as precipitações devem ficar abaixo da média. O meteorologista, que fez palestra na feira, acredita em precipitações entre 700 e 800 mm no período.
Sobre a chuva ideal no período mais crítico de desenvolvimento das lavouras, Arthur Müller, meteorologista do Canal Rural, lembra que entre janeiro e abril deste ano a região somou mais de 500 mm. Foi essa chuva, com a precipitação que propiciou o plantio no final de 2022 que garante a safra cheia no sul do Piauí. Os dados acumulados são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), apurados a partir de estações meteorológicas da região.
Risco da próxima safra é dobrado
Para Antônio Carlos Chies, diretor da Plantec, empresa de insumos e tecnologia agrícola que atua no Matopiba, o risco da próxima safra é dobrado. Primeiro, pela queda e agora estabilização do preço das commodities agrícolas em um novo patamar, mais baixo. E o outro é o clima, com a previsão do El Niño.
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O produtor vai ter que aliar tecnologia e manejo para reduzir o impacto dos possíveis veranicos, típicos da incidência desse fenômeno, lembra Chies. Sobre tecnologias na soja, ele recomenda variedades mais estáveis, de ciclo médio, com capacidade para enfrentar melhor os períodos sem chuva. No milho, complementa, é fundamental o uso de híbridos com maior enraizamento.
Chies também traz para o debate um assunto que requer mais conscientização do produtor de um modo geral, o cuidado com o solo, na construção de um perfil agronômico mais adequado.
“Isso é manejo e boas práticas a serviço do produtor. Uma estratégia vencedora não apenas para explorar em plenitude o potencial da tecnologia, em busca de maiores produtividades, bem como para mitigar os efeitos das mudanças e diferentes fenômenos climáticos”.
O produtor Leivandro Fritzen sabe muito bem o que é isso, a importância do cuidado com o solo. Ele explica que, apesar do clima favorável no último ciclo, em alguns períodos as chuvas foram muito dispersas, manchadas, como o agricultor do Piauí gosta de dizer. Isso faz com que as produtividades também oscilem entre as áreas que recebem volumes diferentes de chuva.
Nesses casos, conta Fritzen, fica evidente o desempenho das lavouras em áreas mais antigas, com um perfil de solo mais estruturado, que acabam compensando talhões com produtividade menor, o que garantiu uma boa média na última temporada.
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