PIB do agronegócio cai 2% em relação ao mesmo período de 2014

Maiores responsáveis pela queda no período são reduções nas produções anuais de café, cana, laranja, algodão e trigo. IBGE também revisou PIB de 2014

Fonte: Divulgação/Esalq-USP

O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio no terceiro trimestre de 2015 recuou 2% em relação ao mesmo período do ano passado e 2,4% ante o segundo trimestre deste ano, de acordo com informações divulgadas nesta terça-feira, dia 1º, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Os maiores responsáveis pela queda no trimestre, em relação ao mesmo período de 2014, são reduções na estimativa de produção anual de café (-6,4%), cana (-4,2%), laranja (-3,3%), algodão (-2,5%) e trigo (-0,2%).

De acordo com a economista da consultoria Tendências Amaryllis Romano, o índice veio maior do que o esperado. Ela afirma que as culturas de algodão, café e cana-de-açúcar foram as principais responsáveis pelo recuo em relação ao trimestre anterios.

Em sua avaliação, a safra de cana-de-açúcar foi afetada pelas chuvas em excesso entre julho e setembro, o que acarretou em menor produção de açúcar e etanol. “No caso do café, a produção no Espírito Santo está muito, muito ruim, também por causa do clima. Quanto ao algodão, a questão é o preço baixo”, explicou a economista. 

Apesar da queda, Amaryllis Romano avalia que o setor tende a fechar 2015 no positivo. “Para o ano o resultado está adequado. Neste último trimestre, temos de contar muito com a pecuária”, afirmou.

Instabilidades

Para o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2015 é um indício de que o setor tem sentido as instabilidades no setor público. 

“O grande problema que estamos enfrentando é a insegurança, seja no Executivo, no Legislativo e até no Judiciário. Isso acaba criando um sentimento de alto risco e diminui o interesse por novos investimentos”, disse. 

Junqueira pondera que o cenário econômico e político deixa produtores com perspectivas limitadas, sobretudo para fins de financiamento da atividade – com dificuldade para captar recursos do Plano Safra 2015/2016 e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

“Estamos dependentes de um governo que agora não tem condições de suportar os mesmos volumes de recursos. E o setor fica sem acesso a eles”, diz. 

Plano-safra

O presidente da SRB acrescenta que a liberação do montante destinado ao Plano Safra atrasou e afetou o setor, com impactos sobre o PIB. “O produtor não comprou as sementes no volume que gostaria, não comprou outros insumos. A falta de crédito no momento adequado, numa atividade em que o tempo é muito importante, acaba afetando o resultado”, critica.

O representante também afirma que a alta do dólar ante o real não é necessariamente boa para o setor e pode não ter sido captada totalmente no resultado do PIB em virtude de negociações prévias da produção. 

“Parte da receita está atrelada à exportação, mas há um regime de comercialização da safra que ocorre antes de ela ser colhida. Boa parte dos grãos foi vendida em reais lá atrás, portanto agora esse benefício acaba ficando fora do setor. É como se já tivesse sido exportado”, explica. “O que vemos no terceiro trimestre de 2015 é uma composição da colheita do que foi plantado no início do ano e parte dos insumos à produção do próximo ano.”

Além disso, o avanço da divisa norte-americana pesa sobre insumos importados e sobre dívidas de grandes produtores rurais. “Isso tem um impacto negativo e demonstra que possivelmente a área plantada será menor e a colheita também. E menos produtiva, já que o produtor usou menos adubos e herbicidas, por exemplo”, diz.

No que diz respeito ao setor sucroalcooleiro, Junqueira nota um impacto do clima, com as fortes chuvas, mas espera recuperação. “Acho que com toda essa crise que o setor passou houve uma diminuição de plantio, fechamento de usinas e vamos voltar a ver preços melhores”, afirma. 

Para o algodão, o presidente da SRB vê pressão no mercado internacional. “Então houve um plantio muito menor. A cultura do algodão não está remunerando o suficiente para expansão”. 

Revisão do PIB de 2014

O IBGE também atualizou nesta terça as informações sobre o PIB de 2014 ante 2013. O dado geral não sofreu alteração – a variação da atividade foi de 0,1% no período –, mas os componentes da oferta e da demanda acabaram tendo mudanças em seus resultados devido à incorporação de pesquisas estruturais e das Contas Anuais definitivas de 2012 e 2013, anunciadas em novembro.

Segundo o órgão, o PIB da agropecuária cresceu 2,1% no ano passado, bem mais do que o avanço de 0,4% estimado inicialmente. “As pesquisas estruturais que a gente incorporou mostraram queda menor das lavouras de milho, soja e cana, que têm peso de 60% na agricultura. Além disso, pecuária e exploração florestal também tiveram variação para cima”, explicou Claudia Dionísio, gerente de Contas Trimestrais do IBGE.

No caso da agropecuária, foram adicionados os dados da Produção Agrícola Municipal (PAM), da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) e da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS).