Pirapora do Bom Jesus mantém vivas as origens do samba e do carnaval

Samba rural tocado por escravos permanece vivo no interior paulistaEm algumas regiões do Brasil a história do carnaval de brilho e glamour das grandes cidades tem origem no Interior. A festa do samba em cidades como Pirapora do Bom Jesus, a duas horas da capital paulista, mostra onde tudo começou naquele Estado: no batuque dos escravos que trabalham nos cafezais.   Seu Tiquinho domina o zabumba e a história que tem por trás deste instrumento e do rítmo que ele toca. O samba de roda cantado e tocado em Pirapora do Bom Jesus é do tempo do bisavô dele, descendente

O samba de roda é só uma das manifestões culturais que os escravos que trabalhavam nas fazendas do interior de São Paulo deixaram como herança. Em muitos locais o bumbo, ou zabumba, como prefere o seu Tiquinho, era o principal instrumento. Foi aí que nasceu o que escritores e estudiosos passaram a chamar na década de 30 de Samba Rural Paulista. Dalva, que aprendeu a cantar com uma tia, defende o samba de roda como ninguém, mas diz que em Pirapora este já não é o único ritmo nestes dias de carnaval. 
 
? Que nem hoje. Hoje temos na casa do samba o samba de roda e o pagode. Mas quando nós apresentamos, todo mundo entra e dança junto com a gente ? conta a funcionária pública Dalva dos Santos.
 
Em Pirapora o espaço que reúne todos os ritmos é uma casa centenária, cheia de história e muito democrática, abrindo suas portas para grupos variados. Max Frauendorf, por exemplo, é historiador, mora em São Paulo e também tem um grupo que toca samba. Ele visita Pirapora todos os anos, porque diz que ali está a origem deste ritmo, que está diretamente ligada aos batuques e a manifestações rurais.
 
? Onde teve fazenda de café, por exemplo, teve uma população negra muito expressiva e evidentemente desta população brotavam inumeras manifestções culturais. O samba de São Paulo tem origem justamente nestas manifestações ? explica Max.
 
A história cultural de Pirapora do Bom Jesus tem muito a ver com religiosidade. O que se conta é que em 1725 foi encontrada no rio Tietê uma imagem do Senhor Bom jesus. O santo seria milagreiro, o que atraiu muita gente pra cá, inclusive fazendeiros que traziam junto os seus escravos. Aí, enquanto o senhoria ficava na igreja, os escravos, que não podia entrar, ficavam nos galpões fazendo batuque. Por muito tempo esta história foi quase esquecida, mas agora há uma intenção de se resgatá-la. E isso é mais evidente em épocas como agora, o carnaval.
 
? A gente está querendo resgatar, trazer novas gerações pra fazer parte, instalar um museu aqui, ou seja, fazer um festivel  de grupo de samba folclórico, de samba de roda, de samba de raiz aqui na cidade pra que ela volte a ter a importância que ela já teve um dia e que a gente continue podendo usufruir desta manifestação maravilhosa ? revela o secretário de Cultura do município, Alejandro Muniz.