Segundo o consultor do Projeto Soja Brasil, quando aplicado corretamente não há estiagem que se torne um problema incontrolável
Artigo: Áureo Lantmann, consultor Projeto Soja Brasil
O Projeto Soja Brasil 2017/2018 segue viagem e durante a passagem pelos municípios paranaenses de Toledo, Cascavel, Goioerê, Itambé, e Bela Vista do Paraiso, foram observadas muitas lavouras de soja e técnicas de manejo.
Em todas, agricultores alegam que produzem soja no sistema de plantio direto, porém apenas uma, realmente adotava corretamente o método. Plantio direto não se resume ao uso de uma plantadeira capaz de semear sobre resíduos de palha, mas sim algo bem mais complexo. O plantio direto tem objetivos inerentes ao solo, tais como:
1 – aumentar e preservar quantidades de matéria orgânica;
2 – alterar a estrutura dos solos através da agressividade de diferentes raízes;
3 – manter os solos cobertos com palha durante todo o ano e principalmente produzir uma diversidade biológica.
A partir do cumprimento desses objetivos se estabelece o sistema de plantio direto.
Para refletir: o acréscimo de 1% de matéria orgânica no solo, proporciona um aumento de rendimento da soja entre 6 a 9 sacas por hectare, em anos mais secos.
O plantio direto tem se consolidado como uma das estratégias mais eficazes para melhorar a sustentabilidade da agricultura em regiões tropicais e subtropicais. Sua adoção, em substituição à prática de agricultura em terra nua, deve ser considerada como um investimento na gestão dos recursos naturais e socioeconômicos. Os principais impactos são assegurados pela conservação do solo, da água e do ar, pela economia no uso de maquinários e produtos agroquímicos, pela diminuição dos riscos por estiagens, pela melhor organização e conforto do trabalho e pelo uso mais eficiente do capital.
O plantio direto começou a ser praticado no Brasil no início da década de 1970, como uma alternativa para combater a erosão, aliado a construção de terraços de base larga. Com o passar do tempo, surgiram plantadeiras com mais de 40 linhas, e se fez algo muito prejudicial aos solos: adaptaram os solos as máquinas novas e, por consequência, destruiu-se os terraços, o que levou a volta dos problemas causados pela erosão.
Com terraços de base larga é possível semear, soja, milho ou trigo. Em terrenos com declividade de até 12%, usando o plantio direto, também se conseguem semear e colher sobre os terraços e assim se aproveitar toda área disponível.
Para refletir: as melhores produtividades de soja obtidas nos concursos de rendimento, promovido pelo CESB, são sempre em situações de plantio direto.
A rotação de culturas é fundamental no sistema de plantio direto caso contrário estará fadada a não dar certo. Um solo cultivado com a “máquina” de plantio direto, não terá seus efeitos maximizados caso não haja uma rotação de culturas.
Para cada região existem possibilidades de rotação de culturas, tanto para o verão, como para o inverno. Entende-se por rotação de culturas a troca de espécies para uma mesma estação.
A sucessão de culturas tal como soja e milho safrinha, tem alguns aspectos positivos, porém muito mais negativos. Sabe-se que na agricultura a repetição de uma mesma tecnologia durante longo tempo, traz muitos problemas tais como: seleção de plantas daninhas e seleção de insetos resistentes, além de não alterar a necessária diversidade biológica do solo. O solo não é só uma mistura de argila, areia e silte, mas algo vivo que precisa de diversidade.
Para refletir: o plantio direto não tem o objetivo único de produzir mais, essa prática visa a melhoria e a manutenção da qualidade do solo, nos aspectos físicos, químicos e biológicos. Pois sem um solo adequado qualquer outra tecnologia fica comprometida.
Uma das cinco fazendas visitadas fazia o tal plantio direto. Por lá, semea-se soja no verão, depois de quatro anos é cultivado o milho, ocupa no inverno algumas áreas para produção de massa seca (ervilhaca, milheto, crotalária, braquiária), no inverno, também, parte da área é semeada com trigo ou milho safrinha.
Os rendimentos de soja, milho e trigo são sempre bem acima da média regional. Além disso, o custo com herbicidas, inseticidas e fungicidas é aquém de outras fazendas da região. As adubações para a soja são equivalentes a metade das quantidades normalmente usadas, ou em alguns talhões, a soja não é adubada.
É provável que o descrito neste artigo seja de conhecimento de uma grande maioria de agricultores e técnicos, porém as áreas com a prática do plantio direto na sua plenitude é ainda pequena.
É bom saber que nenhum produto substitui os benefícios do plantio direto.
Para reflexão: na maior parte das tecnologias geradas para a cultura da soja, pesquisadores pressupõem que serão utilizadas em solos com plantio direto.