Polícia Civil confirma que morte de agricultores em confronto com índios foi causada por armas de fogo

Prefeito de Faxinalzinho, Selso Pelin, afirma que casa do vice-prefeito está cercada por dezenas de índiosA Polícia Civil de São Valentim (RS) confirmou, na manhã desta terça, dia 29, que a morte dos dois agricultores em confronto com indígenas, na noite de segunda, dia 28, em Faxinalzinho, no Norte do Rio Grande do Sul, foi causada por disparos de armas de fogo, conforme a perícia de Passo Fundo. A informação é do escrivão da Polícia Civil José Marinho.

Dois produtores rurais, de 27 e 33 anos, morreram depois que índios bloquearam a estrada que dá acesso à zona rural do município. Os agricultores tentaram liberar a pista, o que teria gerado uma briga que resultou na morte dos irmãos Anderson e Alcemar Souza.

O prefeito de Faxinalzinho, Selso Pelin, informou, nesta manhã, que o vice-prefeito, James Ayres Torres, está cercado em casa por dezenas de índios. 

– Os caminhões carregados de ração tinham que chegar às propriedades e não conseguiam. Os índios atacaram os produtores e perseguiram dois deles, atirando com arma de fogo e os executando a pauladas e pedradas – afirmou o prefeito.

Segundo ele, a comunidade indígena local, que vive em um terreno do Estado gaúcho, reivindica a área há 12 anos, mas uma liminar emitida pela Justiça em 2005 determina que a área não é indígena. A economia de Faxinalzinho, que tem cerca de 2,5 mil habitantes, é agrícola, com destaque para a produção trigo, milho e soja.

Segundo Pelin, a convivência entre índios e produtores não era pacífica. O protesto de ontem foi resultado da falta de uma posição clara do Ministério da Justiça, que teria adiado audiências para tratar das demarcações. Em manifestação, os índios bloquearam as estradas vicinais.

Reforços da Polícia Federal, da Polícia Civil e da Brigada Militar já foram deslocados para a região a fim de evitar novos confrontos. O coordenador Regional da Funai pediu à direção do órgão em Brasília que um representante vá até o Estado. Uma perícia foi realizada no local no final da noite. De acordo com o delegado de Polícia de São Valentim Sérgio Luiz Zanatta, foram utilizados cartuchos de arma 12 e 28. Procurado pela nossa produção, o Ministério da Justiça informou que  não vai se manifestar.

Posição do Cimi

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), através de nota, destacou que “o desfecho tranquilo para a questão das demarcações de terras indígenas no Rio Grande do Sul esteve mais uma vez nas mãos do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo”, que “ao invés de optar pela solução dos problemas e com isso assegurar o cumprimento dos direitos constitucionais dos povos indígenas e dos pequenos agricultores, preferiu descumprir os acordos que firmou com os kaingang e guarani em Brasília no mês de março deste ano”.

Na ocasião, Cardozo garantiu às lideranças que o governo daria continuidade aos procedimentos demarcatórios de quatro áreas reivindicadas há muitas décadas e que seria organizada uma reunião de trabalho com a finalidade de definir um cronograma de ações para concluir os procedimentos demarcatórios. Segundo a entidade, a reunião de trabalho foi agendada para o dia 5 de abril, mas não aconteceu porque o ministro descumpriu o acordo, desmarcando a ida ao Estado por mais de três vezes.

De acordo com a nota, esse foi o motivo de algumas comunidades kaingang decidirem “retomar, por conta própria, partes de seus territórios tradicionais”. 

Protesto de agricultores

Nesta tarde, cerca de 300 produtores rurais realizam um ato público em frente ao prédio da Funai de Passo Fundo (RS).

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