MERCADO

Por que Chicago ainda não está precificando a quebra de soja do Brasil?

Analista cita motivos para os patamares na Bolsa de Chicago ainda estarem estáveis, mesmo com a possível redução de safra brasileira

O produtor brasileiro de soja conviveu com excesso de chuva no Sul e falta no centro-norte. Esse cenário trouxe redução das estimativas de produção da cultura.

O analista de Grãos e Oleaginosas da HedgePoint Global Markets, Pedro Schicchi, conta que apesar de as chuvas terem regressado às áreas carentes de umidade nos últimos dias de dezembro, não há chances de a safra ultrapassar as 160 milhões de toneladas, como era previsto inicialmente.

Por conta das condições climáticas adversas do Brasil – o maior produtor de soja do mundo – a Bolsa de Chicago vinha aumentando os preços dos contratos futuros. Com o retorno das precipitações e a expectativa de redução de perdas, os valores diminuíram.

“Entre outubro e novembro, a soja em Chicago estava fazendo um rally bem forte, com o contrato de março chegando a 1.400 centavos por bushel, muito disso puxado pela seca inicial bastante intensa no Brasil. O grande ponto que está por trás disso é o balanço de soja apertado nos Estados Unidos. Existia a possibilidade de uma safra acima de 160 milhões de toneladas no Brasil, o que diminui a demanda de exportação norte-americana”.

Segundo ele, ainda que as projeções deem conta de que a safra brasileira terá uma quebra, Chicago demora a digerir os números. “O principal fator que está por trás disso é que a seca no Brasil só afeta o balanço norte-americano e Chicago a partir do momento que se tem maiores vendas para exportação nos Estados Unidos”.

O analista acredita que esse movimento aconteça por dois motivos: o comprador chinês ainda não está certo de que a safra brasileira terá uma quebra tão grande e está confortável de que terá a oleaginosa brasileira, sem precisar adquirir a norte-americana. “Contudo, se ele começar a comprar a soja de lá, isso vai afetar os preços e Chicago terá espaço para subir”.

A segunda razão para Chicago ainda não estar precificando uma possível baixa na produção brasileira é o próximo ciclo argentino. “Ano passado não tínhamos a Argentina [no mercado] porque ela teve uma queda muito grande, mas neste ano é possível que o país tenha uma boa produção. Com isso, ela pode até exportar soja em grão, principalmente com essas mudanças de taxa de exportação”.

Schicchi diz que a safra paraguaia também pode ajudar a suprir a falta que a soja brasileira possa fazer no mercado.