O aumento do preço do GEB-10 deve refletir diretamente no campo. As chuvas tardias causaram atraso para o início da safra 2012/2013 e, com isso, a oferta de matéria-prima se encontra limitada, resultando no desabastecimento do mercado consumidor. A demanda aquecida impulsiona naturalmente os preços.
Porém, a sobrevalorização dos preços do coágulo no Estado de São Paulo por parte da Michelin do Brasil é uma ação predatória sobre as processadoras nacionais, que vem perdendo a capacidade de investimento, se tornando obsoletas e impotentes diante do desafio de absorver a oferta iminente de matéria-prima advinda dos novos plantios.
– Chega a ser um paradoxo uma associação de produtores reclamar de preços altos. Porém, a Apabor tem em sua existência a responsabilidade de pensar no crescimento sustentável do setor heveícola. A nossa preocupação frente à ação da Michelin é o prejuízo que pode ser causado ao setor no médio prazo, especialmente no que tange à concentração do beneficiamento em poucas empresas – disse Wanderley José Cassiano Sant’Anna, presidente da Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor).
De acordo com dados da Natural Comunicação, o preço médio do coágulo com teor de borracha seca de 53% no mercado paulista foi de R$ 2,49 por quilo em outubro. O valor representa uma participação de 76,8%, em média, sobre o preço recebido pelas usinas naquele mês. Os dados de novembro ainda não foram publicados. O nível de participação atual compromete as margens das usinas, não permitindo a sua capitalização.
A heveicultura tem avançado nos últimos anos no Estado de São Paulo, impulsionada pela elevação dos preços no campo e pelas projeções de demanda nas próximas décadas. A área plantada praticamente dobrou, alcançando cerca de 80 mil hectares. Com isso, a produção estadual deve mais do que duplicar nos próximos cinco anos.
– Boa parte de tudo o que vemos hoje no campo é resultado do trabalho do agricultor paulista, apoiado pela Apabor, pela Secretaria da Agricultura e pelo departamento técnico das usinas de beneficiamento – disse Sant’Anna.
Os efeitos sobre o segmento produtor de borracha natural no médio e longo prazo se tornam evidentes quando se estabelece um paralelo com a citricultura paulista, hoje com a indústria de processamento de suco controlada por três grandes “players” – Citrosuco (Fischer), Cutrale e Dreyfus.
– Reside aí a preocupação da Apabor – finaliza Sant’Anna.