A família Dante, em Cambé, no norte do Paraná, fechou o primeiro caminhão de trigo colhido este ano com a mesma preocupação de sempre: o valor comercializado vai cobrir, pelo menos, os custos de produção? Nesta safra, o investimento foi de R$ 750 por hectare, entre fertilizantes, sementes e outros insumos. Eles ainda estão pagando o prejuízo que a chuva provocou na safra passada, quando o custo médio ficou em R$ 1 mil por hectare, e o preço caiu para até R$ 15 a saca.
? A gente baixou a tecnologia em 25% porque o ano passado tivemos um contratempo, que foi muito ruim para o trigo. A gente baixou a tecnologia na esperança de sobrar alguma coisa esse ano ? diz o produtor rural Osvaldo Dante.
O Paraná plantou 1,1 milhão de hectares, 13% menos do que em 2009, mas deve recuperar a produtividade. A expectativa é colher cerca de 2,7 mil quilos por hectare, o que não chega a ser uma boa notícia.
O Paraná ainda tem meio milhão de toneladas de trigo do ano passado nos estoques das cooperativas. A Conab tem mais ou menos o mesmo volume em seus armazéns no Estado. A safra que começa agora deve passar de três milhões de toneladas. Se este ano o clima não atrapalhou, a qualidade que deve ser colhida também não significa renda. Outros fatores devem influenciar na formação do preço e voltam a tirar o sono dos produtores.
A redução do preço mínimo em junho, pelo Ministério da Agricultura, é considerado o principal problema. Porém, o acordo que dá preferência ao trigo argentino, em caso de importação, também preocupa os agricultores. Segundo eles, nem a recente alta no mercado internacional anima, porque pode ter um efeito passageiro. O norte do Paraná é o maior produtor de trigo do Estado e deve deve colher 1,2 milhão de toneladas, o que corresponde a 39% do total. O chefe da regional de Londrina da Secretaria de Agricultura, Antônio Carlos Barreto, diz que o desinteresse dos armazéns em receber trigo é outro entrave.
? Quando se recebe trigo, muitas vezes se fica refém de empresas querendo comprar esse produto, ou não. E, se não receber o trigo classificado e separado e segregado, se tem dificuldades de comercialização lá na frente. Muitas vezes você fica com seu armazém com trigo “preso” sendo que você poderia receber soja, milho ou outros produtos ? explica Barreto.