Prefeitos gaúchos pedem ajuda ao governo federal para contornar prejuízos com a chuva

Para agilizar o repasse dos recursos, Estado decretou situação de emergência coletiva de 60 municípios nesta sextaRepresentantes de municípios do Rio Grande do Sul, atingidos pelos temporais que devastaram a produção agrícola e pecuária, participaram de reuniões no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) na quinta, dia 3. Eles reivindicam recursos financeiros e maior prazo para o plantio do trigo. Também pedem a recuperação de pontes e estradas para o escoamento de insumos para a produção.

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No Estado, choveu mais de 600 milímetros nos últimos 60 dias. Segundo o diretor-geral da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado, José Adelmar Batista, a quantidade excessiva de água impede o plantio do trigo e prejudica o desenvolvimento das pastagens de inverno, o que atinge a bovinocultura leiteira.

– As perdas na produção leiteira serão enormes. Vai ser preciso fazer a reposição de matrizes, pois algumas localidades, os animais foram carregados pela água. No caso do trigo, devemos ter um atraso de 60%. A maioria das regiões está fora do zoneamento, uma das reivindicações foi estender esse prazo. Evidente que vai ter quebra, mas queremos ter alguma produção, mesmo que menor – diz Batista.

O Ministério da Agricultura se comprometeu a atender ao pedido dos agricultores e estender o prazo para o plantio do trigo até o dia 31 de julho, garantindo o acesso dos produtores a crédito e seguro rural. A liberação de recursos vai depender dos laudos sobre os prejuízos nos municípios atingidos pela chuva. Para tentar agilizar o processo, o governo do Rio Grande do Sul decretou nesta sexta, dia 4, situação de emergência coletiva de 60 municípios, 58 deles com decretos de emergência e dois de calamidade reconhecidos pela Defesa Civil do Estado.

Segundo o secretário-chefe da Casa Militar e coordenador da Defesa Civil Estadual, Coronel Oscar Luiz Moiano, o órgão esteve emergencialmente nos municípios, através de 11 regionais, auxiliando os prefeitos na confecção do Processo do Decreto de Emergência.

– Agora, após a assistência humanitária, conseguiremos com a união entre governos federal e estadual auxiliar nas demandas de cada um – afirma.

– A questão da situação das estradas e do calcário iremos detalhar diante do decreto. Vamos tratar isso em nível de governo, pois nossos recursos são muito limitados – diz o secretário de Desenvolvimento Agropecuário do Ministério da Agricultura, Caio Rocha.

Para evitar maiores perdas na produção, a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) está pedindo cerca de R$ 30 milhões para recuperação de estradas e melhoria do solo.

– Sem dúvida, nós teremos uma queda na produção leiteira. As pastagens foram danificadas, houve prejuízo com as vacas leiteiras. Além disso, os produtores perderam seus estoques de silagem. Na agricultura, áreas plantadas foram prejudicadas e em outras áreas nem será possível plantar. O prejuízo para o produtor gaúcho será, infelizmente, muito grande – diz o presidente da Famurs, Seger Menegaz.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, disse que a entidade está acompanhando com muita preocupação todos os problemas, pois são mais de 99 municípios atingidos no Estado, em especial na região Noroeste, com perdas irreparáveis aos agricultores.

– Nos deparamos com três situações: quem plantou e resta alguma coisa; outros que a água levou tudo; e quem ainda tem adubos, sementes no galpão e uma dívida no banco. A situação para o trigo está complicada – lamenta Silva.

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Trigo

As intensas chuvas impactaram a cultura do trigo de maneira distinta nas diversas regiões do Estado. O principal problema para a atual safra do grão, ou aquele que poderá ter maior impacto no futuro, se refere ao atraso no plantio. Segundo dados coletados pela Emater/RS-Ascar, considerando a média das últimas cinco safras, o percentual deveria alcançar 78% de área plantada, enquanto que a atual não passa dos 65% do total da área, estimada inicialmente em 1,153 milhão de hectares. Este fato fica potencializado, uma vez que, na maioria das principais regiões produtoras (80%), o período preferencial para o plantio já foi encerrado.

Até o momento, o principal dano relatado, em quase todas as regiões mais afetadas, se refere a problemas decorrentes da erosão causada pelo grande volume de precipitação registrado em curto espaço de tempo, resultando em perdas de fertilizantes e sementes, principalmente em lavouras semeadas dias antes da ocorrência das chuvas. Nas áreas próximas a rios e arroios, as ocorrências mais frequentes foram os alagamentos e inundações. No momento existe uma grande probabilidade de que a área de trigo fique abaixo do estimado inicialmente.

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Pastagens

No período, com a presença constante de chuvas, aliadas à formação de geadas, o desenvolvimento das pastagens nativas, que naturalmente estão no final de ciclo, também foi prejudicado. Em muitos municípios, o excesso de umidade e a pouca luminosidade do período propiciou condições para a proliferação de doenças fúngicas.

Hortaliças

Segundo levantamento da Emater/RS-Ascar, as condições climáticas também foram adversas à produção de hortaliças, principalmente nos cultivos a campo, sem proteção e a céu aberto. Na região do Planalto Médio, se estima que os danos causados pelo excesso de chuvas nas hortaliças folhosas fiquem em torno de 50%. Na alface, os danos são de aproximadamente 80%, mais elevados por ser uma cultura sensível às condições climáticas adversas. Já na região do Alto Uruguai, as perdas variam de 20% a 30%, ocasionadas pelas chuvas excessivas e baixa insolação na semana, prejudicando o desenvolvimento das olerícolas.

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