A primeira carga de lixo foi de três carretas, cada uma carregada com 30 toneladas. Mas o planejamento é despejar no local mil toneladas diárias pelos próximos meses, até atingir o total de 6 mil toneladas produzidas pelo município do Rio. O objetivo é que Seropédica absorva, até o início do próximo ano, os resíduos que eram levados para o Aterro de Gramacho, em Duque de Caxias, à beira da Baía de Guanabara, e que será finalmente fechado.
A prefeitura do Rio escolheu Seropédica depois de ver barrada sua intenção de levar o lixo urbano para o bairro de Paciência, na zona oeste, por pressões dos moradores, às vésperas da eleição municipal de 2008. O novo aterro será administrado de forma privada pela empresa Ciclus, que receberá pelo trabalho e também poderá explorar a geração de energia elétrica, por meio de uma usina que usará o biogás da decomposição do lixo.
O secretário de Conservação e Serviços Públicos do Rio, Carlos Roberto Osório, defendeu a operação do CTR e disse que o maior benefício será o fechamento definitivo de Gramacho.
? O Rio de Janeiro está pagando uma grande dívida ambiental que tínhamos na região metropolitana. Com o início das operações do CTR de Seropédica, que é o mais moderno do Brasil, nós iniciamos o fechamento do aterro de Gramacho. O Rio sai de uma situação de grande fragilidade ambiental para uma situação de vanguarda e modernidade no tratamento dos resíduos sólidos da nossa cidade ? disse Osório.
Ele sustentou que não haverá risco de contaminação do Aquífero Piranema, como apontam ambientalistas e especialistas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Entre outras alegações, apontou que haverá três camadas impermeabilizantes entre os detritos e o solo, além de sensores que darão o alerta em caso de vazamento.
– Isso [a contaminação do aquífero] não é possível. Esses ambientalistas são poucas pessoas que – por motivos que não conhecemos – lutam contra evidências científicas. O processo de licenciamento do CTR de Seropédica foi o mais rigoroso possível. Temos equipamentos que garantem segurança máxima na colocação dos resíduos sólidos lá – garantiu.
Entre os críticos da instalação do depósito, está a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Sirlei de Oliveira, doutora em geologia e integrante do Conselho do Meio Ambiente de Seropédica.
? Eu e os demais pesquisadores da UFRRJ somos absolutamente contra, devido a área que foi escolhida, que é a mais inadequada possível. O solo onde eles estão colocando o lixo é composto de areia. Por mais que falem em fazer camadas de proteção, não será suficiente. Em algum momento, podemos ter um comprometimento muito sério do corpo d´água que está abaixo, o Aquífero Piranema ? alertou a geóloga.
Ela discorda da forma como está sendo tratado o aquífero, que representa uma reserva estratégica em caso de acidente com o principal fornecedor de água para a cidade do Rio de Janeiro, o Rio Guandu, afluente do rio Paraíba.
? Hoje o mundo todo está preocupado com a quantidade de água doce que temos à disposição num futuro próximo. Este aquífero é suficiente para abastecer o Rio de Janeiro por mais de um mês, se houver qualquer tipo de contaminação no principal corpo hídrico, que é o Guandu ? advertiu Sirlei.
Para a geóloga, o agravante foi a escolha do local, que é justamente onde acontece a recarga de água, próximo a uma serra, que funciona como uma grande calha para as chuvas, que em seguida se infiltram no solo, garantindo novo suprimento de água.
Já o ambientalista Mário Moscateli, que tem se dedicado à proteção do entorno da Baía de Guanabara, promovendo reflorestamentos com espécies nativas, também critica a iniciativa, mas de forma branda. Ele considera que a principal vantagem será a possibilidade de se evitar um desastre maior, um vazamento em grandes proporções do Aterro de Gramacho para o mar. Mesmo assim, Moscateli diz que é preciso haver transparência na administração do CTR, com a participação da sociedade no acesso às informações.
? Na medida em que todas as normas técnicas sejam devidamente respeitadas, não vejo grandes problemas para este novo local que receberá os resíduos sólidos. O que precisa ser exigido é que todas as normas, as técnicas e a legislação sejam permanentemente fiscalizadas pelos órgãos ambientais, pelas universidades e pelo Ministério Público. Porque muitas vezes a coisa começa direito e desanda em um determinado momento ? salientou Moscateli.