A Agroconsult Consultoria projetou que a produção de soja no Brasil pode chegar a 102,6 milhões de toneladas na safra 2016/2017, em fase de plantio, caso o clima seja favorável. A preocupação é com o fenômeno climático La Niña, que está se caracterizando nos últimos meses. Espera-se, no entanto, que ele seja menos severo que o último observado no Brasil, no ciclo 2011/2012.
A consultoria prevê aumento de 1,4% na área plantada com soja, para 33,7 milhões de hectares, mesmo número estimado em agosto. Em palestra durante evento da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, ressaltou que a safra 2016/17 está sendo plantada a um ritmo mais rápido do que em anos anteriores, atingindo 85% de plantio no Brasil.
O ritmo de crescimento de área, porém, deve ficar bem abaixo dos 5,5% da média dos cinco anos anteriores, por causa da migração para o milho na safra de verão no Sul do País, do endividamento ou restrição de crédito de grandes grupos produtores do Cerrado e das perdas no ciclo anterior em virtude da seca no Matopiba.
Ele ressaltou que o começo acelerado do plantio da soja reduz os riscos climáticos para a safrinha de milho e permite que o Brasil já tenha volumes de soja colhidos no começo do ano que vem.
“No ano passado, tínhamos 35% da safra plantada no fechamento de outubro, este ano tivemos 48%, e isso faz uma diferença enorme do ponto de vista de safrinha. Nós já plantamos até o fim de outubro toda a área de soja precoce necessária para plantar a safrinha de milho em janeiro e fevereiro e não precisar entrar em março, o que significa que reduzimos muito o risco na próxima safrinha”, afirmou Pessôa.
O analista ressaltou, entretanto, a preocupação quanto à possibilidade de La Niña, que, dependendo da intensidade, pode provocar estiagem no Sul do País. “O problema é quando começa a faltar chuva no Sul do Brasil nos meses de novembro, dezembro e janeiro, quando a gente tem a definição da produtividade. Até agora está tudo bem, mas não está garantido”, assinalou. Para Pessôa, o risco climático para a América do Sul contribuiu para a subida do preço da soja e do milho na Bolsa de Chicago nos últimos dias.
Contudo, a consultoria espera que nos meses de dezembro e janeiro, quando ocorrem as fases de floração e enchimento em boa parte das regiões produtoras, não ocorrerá uma repetição do quadro observado em 2011/12. “O que está previsto é que vai ser melhor do que em 2011”, apontou o analista. “O que não anula a perspectiva positiva para o Mapitoba. Em anos de La Niña ou neutralidade, a perspectiva é de chuvas bem melhores na região do que nos anos anteriores.”
Pessôa assinalou, ainda, que a demanda global fortalecida deve ajudar a absorver a volumosa produção esperada para o Brasil. Para o analista, o grande volume de soja produzido pelos EUA, de 119 milhões de toneladas, foi suficiente somente para compensar as perdas observadas na América do Sul no primeiro semestre.
Ele citou a China, que continua com margens de esmagamento positivas, o que tem contribuído para absorção de grande parte da soja norte-americana, mas citou também mercados do restante da Ásia e da África, com crescimento robusto e consumo per capita de proteínas ainda baixo, como alternativas de destino para os aumentos de produção projetados para os próximos anos.
Segundo o analista, uma produção brasileira de 102,6 milhões de toneladas, se confirmada, deve apenas manter a relação estoque/uso mundial no mesmo nível do ano anterior, o que contribui para que os preços permaneçam ao redor de US$ 10/bushel em Chicago na temporada que se estende de setembro de 2016 até agosto de 2017, conforme a Agroconsult. A Agroconsult espera que o Brasil exporte 56,3 milhões de toneladas da oleaginosa em 2017.