Pressão de produtos agrícolas diminui sobre IGP-DI de setembro, diz FGV

Desaceleração do índice só não foi maior por conta dos alimentos processados, que ainda refletem altas da soja e do milhoOs produtos agrícolas, que pressionaram a inflação em meses anteriores, já não exercem a mesma influência sobre o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI). Este foi o motivo para a desaceleração do indicador, de 1,29% em agosto para 0,88% em setembro, segundo o coordenador da pesquisa pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

A desaceleração só não foi maior, ressalta o economista, por conta dos alimentos processados, que utilizam a soja e o milho como matéria-prima e, por isso, ainda refletem altas passadas de preços dos dois produtos agrícolas.

– A pressão inicial dos agrícolas sobre a inflação cedeu bastante. Mas a transmissão na cadeia ainda estará forte até a conclusão do ciclo de preços, o que deve acontecer no fim do ano. A inflação ao consumidor ainda deve acelerar um pouco – estimou Quadros.

No atacado, cuja variação de preços é medida pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), a inflação da soja desacelerou de 7,45% em agosto para 2,48% em setembro. Comportamento semelhante foi captado para o milho, que saiu de 13,29% em agosto para -3,23% em setembro. A explicação, conforme Quadros, é que a apreensão do mercado com os efeitos da seca nos Estados Unidos, que afetou a safra da soja e do milho em meses anteriores, não existem mais, pois as perdas são conhecidas.

– A safra americana está sendo colhida. Há uma informação precisa da perda, não é uma estimativa. O preço já subiu o suficiente para se ajustar às condições de escassez – disse Quadros, ressaltando que a produção da soja tornou-se atrativa para o agricultor brasileiro, o que indica que a previsão é de crescimento da safra e de redução de preços ao longo dos próximos anos.

Apesar da desaceleração dos preços da soja e do milho, os dois produtos ainda influenciam a inflação de produtos derivados. O que explica boa parte do avanço de preços dos bens finais, de 0,64% para 1,03%, e, dentro deste grupo, dos alimentos processados, de 1,75% para 3,68%. É o caso do óleo de soja (de 1,50% para 6,66%), das aves (6,51% para 6,65%), que utilizam os grãos como ração, e da carne bovina (de -0,29% para 8,98%), uma alternativa às aves para o consumidor.

– As carnes suínas e de aves subiram e, consequentemente, a carne bovina subiu também. Só que a bovina tem muito mais peso no cálculo da inflação. A transmissão da inflação da soja do passado está, em setembro, muito concentrada na carne – explicou Quadros.

Além dos derivados da soja e do milho, alguns produtos agrícolas também influenciaram positivamente a inflação no atacado em setembro, como o arroz em casca, que passou de 10,42% para 13,58%, e a mandioca, que passou de 9,41% para 16,37%.