– Dá a sensação de que acertaram vender no mercado interno ao mesmo preço FOB (Free on board) que poderiam ter com a exportação – disse o analista Jávier Buján, da Kimei Cereales. Durante o dia, o mercado operou com forte oscilação. A tonelada começou cotada a US$ 410/ton, depois subiu a US$ 425/ton e fechou o dia a US$ 316/ton. Para Buján, o mercado vai se estabilizar ao redor de US$ 350/ton.
– Isso é valor razoável que pode abastecer o mercado, mas [o trigo] continua sendo o mais caro do mundo – afirmou.
Na quarta, dia 3, Moreno deu um prazo de 48 horas para que as empresas exportadoras colocassem no mercado lotes de trigo que estão retidos, sob pena de confisco, pesadas multas e até detenção de executivos, conforme prevê a Lei de Abastecimento. Uma das primeiras a responder ao secretário foi uma cooperativa ligada ao governo, ACA, que ofertou o trigo com o preço mais baixo.
Nesta quinta, o ministro de Agricultura, Norberto Yauhar, afirmou que o governo está levantando o volume estocado nos silos e empresas exportadoras.
– Produzimos nove milhões na safra 2012/2013. A Argentina consome 5,5 milhões de toneladas.
Estudo realizado pela Globaltecnos SA para a associação de agroempresários Consórcio Regional de Experimentação Agrícola (CREA) pondera que as contas do ministro não significam exatamente que todo este trigo esteja à disposição do mercado. O estudo deixou claro que há divergências sobre o volume da produção: o governo aponta 9,1 milhões/ton, enquanto a Bolsa de Cereais de Buenos Aires informa que são 9,6 milhões.
Este volume permitiria contar com um pequeno saldo excedente de 715 mil a 1,23 milhões/ton, depois de atender a demanda interna e as exportações. No entanto, observou o estudo, a análise da safra de trigo tem que, obrigatoriamente, considerar o fator qualidade. Além de a produção ter sido menor, a qualidade foi baixa em razão do excesso de chuvas.
– É muito pouco provável que haja no mercado uma quantidade suficiente de trigo de alta qualidade para misturar com o que se encontra fora do padrão. As análises de laboratório mostram que não há grau 1 na mercadoria coletada – afirmou o estudo.
O CREA defendeu ainda os produtores das acusações oficiais de que estão especulando com o preço do trigo.
– Nenhum bom empresário agrícola ficaria com o trigo guardado podendo vendê-lo hoje a um valor equivalente ao dobro do que se oferece para o fim de 2013 – argumentou.
Em nota, o CREA destacou que a colheita de trigo foi menor devido à política de intervenção do governo argentino. Porém, o problema se complicou com o excesso de chuvas que comprometeu o rendimento e a qualidade. A situação deve ser analisada, segundo observou o CREA, em um contexto mais amplo iniciado em 2007, quando teve início a intervenção oficial no mercado.