Durante a entressafra da soja, o produtor Luiz Walmor Minetto cultiva feijão, alho e cebola em 300 hectares irrigados. Ele conta que a falta ou as oscilações no fornecimento de energia elétrica duram até três horas seguidas e acabam onerando o custo de produção.
– Além de aumentar o consumo, gera multa porque acaba acionando uma demanda. Dependendo da incidência de picos, chega dar até 50% de multa, no valor do consumo. A gente não pode ficar pagando multa por uma coisa que não temos controle. Não depende da gente, está fora do nosso alcance – destaca o produtor.
O problema afeta os agricultores de Cristalina, a 280 quilômetros de Goiânia, em Goiás. Dos 630 mil hectares do município, 52 mil são irrigados para o cultivo de mais de 50 culturas. Uma das principais é a cebola, bastante sensível à falta de água.
– Já tivemos casos de ter que eliminar a quadra inteira pela falta de energia, já passou três dias sem eu poder molhar devido ao problema de fornecimento na região – diz o gerente da fazenda, Leonardo Nogueira.
Na propriedade com dois mil hectares irrigados, os 20 pivôs não podem funcionar juntos. Para manter a atual produção, seria necessário o dobro dos 1.800 Watts por hora disponíveis. Nogueira afirma que o ultimo pivô foi instalado há cinco anos. De lá pra cá, a necessidade já aumentou. Hoje, a fazenda tem capacidade para instalar mais quatro equipamentos, o suficiente para irrigar uma área de 200 hectares. Segundo o gerente, o investimento só pode ser feito se o fornecimento de energia for ampliado.
– Só em Cristalina, nós temos uma demanda reprimida de 20 mil hectares. Temos água, tecnologia, tudo para fazer, não fazem porque não tem energia. Hoje, no Estado, se nós tivéssemos energia, teríamos pelo menos 50 mil hectares a mais irrigados. Não tendo energia, não temos essa área irrigada, que propiciaria, no mínimo, mais 10 mil empregos pra população – explica o presidente Sindicato Rural Cristalina, Alécio Maróstica.
De acordo Maróstica, a produção leiteira também sofre prejuízos.
– Cerca de 20 produtores usam equipamentos de ordenha de leite mecanizada, que necessitam de energia elétrica. Quando falta, o transtorno é muito grande na propriedade. Primeiro pelo desconforto que provoca no rebanho leiteiro, já que o leite não é retirado no momento adequado. Outro é na armazenagem do leite, que às vezes fica sem refrigeração e perde a qualidade, o que gera prejuízo aos produtores – lamenta.