O Brasil precisa lidar com os seus problemas estruturais se quiser melhorar as perspectivas de crescimento da agropecuária no médio prazo, além do desempenho da economia. O alerta foi feito pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Entre os problemas apontados pelo relatório que discute as expectativas para a agropecuária mundial até 2024 estão a infraestrutura precária, os altos impostos indiretos, a burocracia, a fraca presença no mercado internacional e o baixo nível de educação e capacitação da mão de obra.
– Melhoras na infraestrutura logística e de transporte é prioridade [para melhorar a posição competitiva do setor agropecuário]. Isto reduziria os custos dos produtores brasileiros voltados à exportação, enquanto beneficiaria todos os tipos de produtores, ao melhorar o acesso aos mercados domésticos – diz o estudo.
Nas condições atuais, as perspectivas para a agropecuária são positivas, mesmo com a expectativa de queda da demanda doméstica e internacional e das cotações das principais commodities. A FAO e a OCDE dizem que as projeções assumem que as políticas não sofrerão grandes mudanças nos próximos anos e que não haverá nenhum evento climático significativo.
No lado da oferta, os produtores devem se beneficiar do aumento da produtividade, com crescimento do rendimento e da área plantada. O relatório espera um aumento de 20% na área plantada no país, para 69,4 milhões de hectares, um avanço médio de 1,5% por anos.
A soja continuará dominando o uso da terra e permanecerá a principal cultura do país, diminuindo a sua distância em relação aos Estados Unidos, o maior produtor da atualidade. Segundo o estudo, entre os maiores produtores e exportadores do mundo, o Brasil é o que possui maior potencial para expandir a produção.
– Ele [Brasil] é tão produtivo quanto os Estados Unidos (o rendimento médio é praticamente o mesmo), mas possui uma base enorme de terra disponível para produzir soja, enquanto os Estados Unidos é mais competitivo na produção de milho, o que limita o seu potencial para mudar grandes porções de áreas para a soja – diz o estudo.
A soja também continuará sendo o produto de exportação mais lucrativo do Brasil, com metade da produção sendo destinada ao exterior. Até 2024, a cultura deve gerar R$ 87,5 bilhões em lucros.
No caso do açúcar, o Brasil continuará sendo o principal produtor e exportador, apesar da falta de investimentos nos últimos anos, as condições climáticas adversas e o fim da vantagem de custos, por conta da mecanização em outros países. O que deve compensar estes fatores são a desvalorização do real, a queda no preço do petróleo no mercado internacional e, acima de tudo, a valorização do setor de etanol.
O estudo da FAO e da OCDE prevê que a demanda total por etanol totalizará 39 bilhões de litros até 2024, puxado pela mistura com a gasolina. A demanda doméstica deve limitar a exportação de etanol, que deve atingir 3,5 bilhões de litros ao final do período.
Em relação ao setor de carne, a expectativa é de que ele continue apresentando forte crescimento, aproveitando a valorização do dólar, a perspectiva de redução nos custos da alimentação, melhora da genética animal e aumento da demanda local e mundial.
Segundo o relatório, a carne de aves será responsável por mais da metade do crescimento previsto para carne – 15,7 milhões de toneladas, alta de 22%. A outra metade será divida entre a carne bovina (11 milhões de toneladas, aumento de 1,1%) e a suína (4,3 milhões de toneladas, expansão de 24%).