Produção agroecológica muda vida de produtores rurais na Paraíba

Transformações vão da forma de produzir ao conforto das famíliasA vida da família da agricultora Maria Verônica de Oliveira, do município de Monteiro, no Cariri paraibano, mudou para melhor. Agora, o sítio tem antena parabólica. A casa, antes quase sem mobília, hoje tem de geladeira à máquina de lavar roupas, além de telefone celular, televisão e aparelho de DVD. O carro velho que transportava verduras foi substituído por outro mais novo. No pátio ainda há três motos para transporte e passeio. Mudou, também, o aspecto físico da família, agora mais saudável,

Iniciada em 2006, a causa dessa transformação, conforme dona Maria Verônica, tem nome: Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais). Trata-se de um programa desenvolvido pelo Sebrae em parceria com a Fundação Banco do Brasil e o Ministério da Integração Nacional para incentivar a agricultura sustentável em propriedades rurais familiares. Isso significa a não utilização de agrotóxicos e incentivo à preservação do meio ambiente. O objetivo é garantir alimentação às famílias e gerar renda com a venda do excedente.

No centro do sistema fica um galinheiro, garantindo alimentação e esterco para fertilização. Fora dos canteiros, fica o quintal agroecológico onde normalmente são cultivadas árvores frutíferas e culturas de subsistência. O sistema de irrigação é gotejante por gravidade, por meio de mangueiras que transportam a água de uma caixa instalada de forma estratégica. Dependendo do caso, a caixa é abastecida por meio de bomba instalada que funciona com auxílio de energia elétrica ou solar. O adubo é feito com compostagem de materiais orgânicos e esterco.

Pioneira no programa na Paraíba, Maria Verônica garante que a renda média de sua família chega a R$ 800 mensais. Ela conta que o atual sistema traz uma grande diferença em relação aos tempos em que o dinheiro mal dava para as despesas básicas e até ficava devendo os agrotóxicos que utilizava no plantio.

? Às vezes, eu me desesperava vendo que trabalhava feito jegue e não via resultado ? relembra.

Além do conforto para a família, ela destaca principalmente as mudanças de mentalidade e de cultura. Entre os aprendizados, cita a utilização adequada do solo e a preservação ambiental. Não faz mais queimadas, não usa agrotóxicos e aumentou a produtividade. Também passou a plantar culturas que não conhecia, como rúcula, espinafre, nabo, rabanete, berinjela e couve-flor.

Com isso, toda a família começou a se alimentar melhor, tomando gosto por legumes e verduras. A agricultura ainda aprendeu a aproveitar muita coisa que jogava fora, como fazer bolo e purê de casca de banana, farofa de casca de cenoura, refogado com folhas de cenoura e beterraba, pudim de abóbora e até brigadeiro de feijão. O resultado, garante, aparece no rosto corado dois filhos menores que “tão tudo rosadim”, e no ânimo dela e do marido, que têm mais “força e coragem” para trabalhar.

Maria Verônica diz que repassa o aprendizado para os filhos e os vizinhos. Também criou e preside a Associação de Agricultores Agroecológico de Monteiro, onde conhecimentos e experiências são trocados e estratégias são montadas para garantia de mais benefícios. Conforme ela, a entidade conta com 35 associados e as melhorias também já são evidentes nas famílias que integram a associação.

Já há unidades do Pais instaladas em 1.316 propriedades familiares de 36 municípios de 12 Estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Ao todo já estão sendo beneficiadas 6.580 pessoas, numa média de quatro a cinco por família. Além da alimentação, a renda média mensal com a venda do excedente é de R$ 470, havendo casos que é ainda maior.

Conforme o coordenador do programa na Paraíba, João Bosco da Silva, existem unidades do Pais em 12 municípios do Estado: Monteiro, Sumé, São João do Tigre, Prata, Ouro Velho, amparo, Livramento, Taperoá, Santo André, Gurjão, Cabaceiras e Congo.

Em julho deste ano essa tecnologia social também passou a ser utilizada pela Pastoral da Criança. Com uma experiência inovadora, a instalação e manutenção do sistema contribui para dar ocupação e renda para jovens dependentes químicos de Aracati (CE) assistidos pela Comunidade Shalon, ligada à igreja católica.

? O trabalho ainda está no início, mas a idéia é contribuir para recuperar e fortalecer esse grupo e formar um fundo solidário para ajudar a outros necessitados ? explica Francisco Claudeirton do Nascimento, articulador do projeto.

A idéia da pastoral é levar o Pais para famílias carentes da zona rural ligadas à entidade. O Pais é uma das tecnologias sociais que serão apresentadas na VII Expo Brasil, de 12 a 14 de novembro, em Cuiabá (MT).