É no pequeno vilarejo, em Overath, no Oeste da Alemanha, que o produtor rural Sebastian Diez administra a fazenda de 300 hectares. O rebanho, que há uma década era de 130 cabeças, atualmente soma 200 cabeças. Só que os investimentos na compra de animais foram interrompidos há dois anos, quando o preço pago pelo leite recuou e tornou a expansão do plantel inviável. O agricultor decidiu apostar na produção de energia, instalou biodigestores e passou a fazer dinheiro com os dejetos, que antes só eram usados na adubação da lavoura de milho.
? Há uns seis anos eu já pensava em instalar os biodigestores. E em 2009 o governo começou a incentivar a produção de energia, dizendo que quanto mais dejetos fossem produzidos e destinados a isso, maior seria a garantia de preços. Com isso a atividade se tornou realmente rentável, e eu decidi investir sem medo, já que antes achava arriscado, pois os custos para implantação eram muito elevados ? conta o produtor.
Para implantar o sistema o produtor gastou cerca de 1,5 milhão de euros. Um investimento alto, mas com o retorno garantido. Por ano a propriedade lucra algo em torno de 750 mil euros com a produção de energia, que já é responsável pela metade do faturamento anual da fazenda.
Cada kva (medida de potência elétrica) é negociado por 0,20 euros. Por ano a propriedade produz 4 milhões de kvas. Os vizinhos reclamam do odor e dos ruídos provocados pelos biodigestores. Também há preocupação com eventuais danos ao meio ambiente. A grande polêmica, porém, é quanto ao avanço dos cultivos para produção de biomassa. Diez passou a destinar parte do milho para o enriquecimento da matéria orgânica que vai para o biodigestor. Isso garante mais produção de gases e, consequentemente, de energia. Por isso, mesmo com o compromisso de fechamento de todas as usinas nucleares no país até 2022, a possibilidade de expansão do setor de energia renovável nos próximos anos pode enfrentar obstáculos.
? Este é um assunto bastante polêmico. Não se trata apenas de ser ou não rentável. A opinião pública não concorda com a conversão das áreas destinadas à produção de alimentos para a produção de energia. Quanto ao fim da energia atômica há duas opiniões. Uma é positiva, pois vamos acabar com o lixo atômico. A outra é que a energia produzida pelo biogás também traz problemas. Em 2012 devem ser criadas novas leis para este mercado de bioenergia ? comenta Diez.
Outro assunto polêmico envolve os alimentos transgênicos. Uma empresa produz ração animal na Holanda. A matéria-prima é comprada de 50 países. O farelo de soja, por exemplo, é do Brasil. 95% de todo o farelo importado é geneticamente modificado. O chefe do Departamento de Qualidade da empresa, Wilco Engberts, explica que na alemanha, há forte resistência a este tipo de produto. Além disso, entre os principais clientes há uma grande rede de fast food que só aceita o uso de produtos naturais.
? Estou convencido de que o mercado vai funcionar como deve, isso quer dizer, enquanto houver uma procura por soja convencional, vai haver oferta. E esta procura vai traduzir-se em preços mais altos para o produtor. Sempre vai haver produtores que estão com disposição de produzir soja não transgênica. Hoje em dia o preço que se paga pela soja convencional é consideravelmente mais alto que o preço pago pela transgênica. Porém, esta procura pela soja não transgênica não está crescendo. O mercado continua muito igual ? conclui Engberts.
Confira o infográfico com as reportagens feitas pelo Canal Rural pela Europa