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Produção nacional de trigo em 2013 teve rendimento 22,4% superior à safra passada

Maiores investimentos em tecnologias e cultivo em áreas não tradicionais foram alguns dos motivos para o crescimentoA produção nacional de trigo em 2013 foi 22,4% superior à safra passada, com mais de 5,3 milhões de toneladas. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o aumento de área nos principais Estados produtores esteve associado à alta de preços e produtores capitalizados que, na maioria dos casos, estão comemorando os bons resultados da safra.

A média de rendimento das lavouras brasileiras de trigo (CONAB) foi de 2,445 mil quilos por hectare (kg/ha). No Rio Grande do Sul, no entanto, este número sobe para 2,822 mil quilos por hectare, chegando a 6 mil kg/ha nas melhores lavouras. O aumento da produtividade em relação à safra passada no Estado foi de 45%. Segundo o Diretor Técnico da Emater/RS, Gervásio Paulus, o crescimento foi resultado tanto do cultivo em áreas não tradicionais, como na metade sul, que cresceu 43%, quanto no maior investimento do produtor em tecnologias como cultivares mais resistentes, adubação e defensivos.

Em Santa Catarina, o clima seco e frio favoreceu a produção, resultando em aumento de 54% em relação ao ano passado, chegando a 215 mil toneladas, de acordo com dados da Empresa De Pesquisa Agropecuária E Extensão Rural De Santa Catarina  (Epagri). Na área de abrangência da Cooperativa Agroindustrial Alfa, com sede em Chapecó (SC), a média de produtividade das lavouras foi de 70 sacos por hectare (4,2 mil kg/ha). Na avaliação do engenheiro agrônomo Jacques Schvambach, a qualidade desta safra no Estado é o grande destaque, com elevada força de glúten, acima de 250 e PH superior a 80, como exige a indústria de panificação. O engenheiro de alimentos Julio Tanilo Bridi explica que a área de produção na cooperativa foi direcionada em 80% para trigo pão e 20% para trigo brando.

– A área com trigo brando só não foi maior por falta de sementes. Estamos trabalhando voltados a atender novos nichos de mercado, como a indústria de biscoitos, por exemplo. É uma estratégia para garantir a valorização do trigo a longo prazo  – lembra Bridi.

Em Minas Gerais, o rendimento na média das lavouras ficou um pouco abaixo do ano passado – caiu de 3.753 para 3.309 kg/ha – principalmente em função do aumento das áreas de trigo de sequeiro, com rendimentos historicamente até 40% menores do que o sistema irrigado, e do veranico que afetou a cultura logo na implantação da lavoura com mais de 40 dias sem chuva.

– O rendimento, que no ano passado chegou a 73 sc/ha, caiu para 50 sc/ha nesta safra em função da seca logo após a semeadura – lamenta o produtor  Eduardo Ashidani, que colheu 800 hectares de trigo em Madre de Deus (MG).

No trigo de sequeiro, a média ficou em 1,8 mil kg/ha, mas nos 20 hectares do produtor Nildo Meneghini, no município de Guarda-Mor, o rendimento chegou aos 4,68 mil kg/ha, muito próximo da média nos cultivos irrigados que ficou em 5,4 mil kg/ha.

– Acostumados com  rendimentos acima de 7 mil kg/ha no trigo irrigado, muitos produtores foram prejudicados pelas manchas foliares, principalmente a mancha amarela – explica o pesquisador da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), Joaquim Soares Sobrinho, ressaltando que  a brusone, doença que comprometeu a cultura nos últimos 10 anos, não foi problema nesta safra, implicando em perdas abaixo de 5%.

No resultado final, o aumento de área em 68% impactou numa produção quase 50% maior na safra mineira, chegando aos 119,8 mil toneladas de trigo com excelente qualidade industrial. Porém, Sobrinho alerta que os produtores têm arriscado o investimento com semeadura fora da época recomendada pela pesquisa (fevereiro/março). Neste ano, tiveram sucesso aqueles que apostaram no prolongamento do período chuvoso, como aconteceu em 2012. Contudo, historicamente, as chuvas cessam no mês de abril, comprometendo o desenvolvimento inicial da planta.

– No sul de Minas, vimos semeadura de sequeiro em junho. Sabemos que existem muitas diferenças climáticas, mas para colher trigo é preciso observar os limites indicados, pois as plantas precisam de água – diz o pesquisador.

Na região de Goiás e Distrito Federal, o que mais chamou a atenção foi o preço. A sanidade das lavouras e o clima favorável tornou o cereal cotado a R$ 900,00 a tonelada, cerca de R$ 55,00 a saca de 60kg, com custo de produção estimado em R$ 2,2 mil por hectare.  Em 90% das lavouras, em que predomina o trigo irrigado, as principais cultivares foram BRS 254 e BRS 264, atingindo média de 7,2 mil kg/ha.  Em 2013, a área com trigo cresceu 10% na região, mas na avaliação dos pesquisadores Júlio Cesar Albrech (Embrapa Cerrados) e Jorge Chagas (Embrapa Trigo) a previsão é de crescer ainda mais em 2014, já que o trigo está permitindo maior lucratividade do que o feijão, principal concorrente pelos pivôs nas lavouras irrigadas.

No Paraná, segundo maior produtor de trigo no País, as perdas chegaram a 40% principalmente em função das geadas ocorridas no mês de julho. Também a seca na implantação da cultura e o excesso de chuva no desenvolvimento prejudicaram a safra. De acordo com o Deral, mais de 954 mil toneladas de trigo foram perdidas.

Em São Paulo, além das geadas, o trigo também sofreu com o ataque de pragas, causando perdas acima de 30% (CONAB). Apesar do aumento da área em 62%, a produção final aumentou em apenas 11%, cerca de 10 mil toneladas a mais do que na safra passada. Nesta semana, o Sindustrigo (SP) anunciou a reativação da Câmara Setorial do Trigo no estado com a meta de aumentar em cinco vezes a área de cultivo, saltando das atuais 90 mil toneladas para 500 mil toneladas no prazo de quatro anos.

Preços

Para o chefe-geral da Embrapa Trigo, Sergio Roberto Dotto, além do adequado uso da tecnologia disponível para produzir trigo no Brasil e o clima favorável na maioria das regiões, o fator determinante para o crescimento da produção nacional foi o preço em alta nas commodities.

– O bom retorno com a venda da soja garantiu o investimento no trigo. O cereal de inverno ainda foi favorecido com a frustração de safra nos principais produtores mundiais e as retenções políticas para o trigo argentino. A demanda internacional alta motivou o aumento de área no Brasil em 15% e deu novo ânimo ao triticultor que já pensava em abandonar a cultura – explica Dotto.

O preço mínimo do trigo em 2013  se manteve em R$ 531 por tonelada, mas a falta de produto no mercado cotou o cereal em R$ 1 mil por tonelada no começo da safra. No comparativo feito pela Emater/RS no preço pago ao produtor nos últimos três anos pode-se observar o seguinte aumento: dezembro 2011 – R$ 436,00; dezembro 2012 – R$ 538,00; e dezembro 2013 – R$ 589,00..

 

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