O fungo ataca a planta em condições de umidade excessiva e forte calor e a Argentina registrou no último mês períodos de estiagem, temperatura alta, seguidos de chuva e temperaturas baixas.
– O perigo de ter fusarium é durante o estágio da floração e somos precavidos por experiência anterior – explicou o presidente Associação de Produtores de Trigo (Argentrigo), Matias Ferreccio.
Ele afirmou que a prolongada estiagem não prejudicou o trigo na principal área de produção, no sul da Província de Buenos Aires, responsável por quase metade do trigo nacional. Há estimativas, porém, de muitas chuvas nos próximos dias, o que alerta os produtores para o risco do excesso de umidade, como ocorreu na safra 2012/2013, inicialmente afetada pela estiagem. E, posteriormente, severamente castigada pelas chuvas.
No entanto, “se o clima continuar ameno, como vem se apresentando até o momento e com chuvas moderadas, o rendimento será muito bom”, estimou. Também precavido, o analista da consultoria Globaltecnos, Alejandro Vejrup, ressaltou a coincidência do período chuvoso com a etapa crítica da floração.
– Se chover três dias, como dizem as previsões climáticas, mais de 100 mm, podemos ter o mesmo problema que no ano passado com o fusarium – disse o analista.
Baseado nos cálculos de rendimentos elaborados pelos técnicos das bolsas de cereais, Vejrup estimou que se o cultivo for contaminado, como a colheita anterior, a safra poderia repetir os mesmos 8 milhões/t. Em compensação, se as chuvas forem “normais”, entre 10 mm e 50 mm, a colheita ficaria entre 9,5 milhões a 10 milhões/t, disse ele, com uma estimativa mais conservadora.
– Estes dias são chave para o trigo – arrematou.
O pico da colheita começa em 10 de dezembro. No norte, os trabalhos já foram iniciados, mas há atraso. Em seu relatório semanal, divulgado na quinta, dia 31, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires manteve a estimativa da safra e detalhou que a colheita no norte está prejudicada pelas chuvas. Também observou que os rendimentos dos primeiros lotes coletados são baixos por se tratar de uma zona trigueira marginal, que sofreu com a escassez de chuvas.
Os produtores colheram 1,5% dos 3,62 milhões de hectares cultivados com trigo. O atraso é de 4,5 pontos porcentuais em relação a igual período do ano anterior. O Ministério de Agricultura ainda não publicou estimativas oficiais para a colheita do cereal. Em recente entrevista, o vice-ministro de Agricultura, Lorenzo Basso, havia estimado rendimentos muito superiores à safra anterior.
– No fim das contas, somando a área produtora de excelência e a não tradicional, teremos um bom resultado – disse Basso. A última colheita foi uma das piores dos últimos anos e os argentinos até hoje estão pagando mais caro pelos derivados, como pão e massas.
Exportação
Com oferta abaixo da demanda no mercado doméstico, o preço do cereal disparou nos últimos meses. Segundo a Bolsa de Cereais de Rosario, não houve oferta aberta de trigo disponível na quinta, mas o preço estimado do cereal é de 2.500 pesos (em torno de US$ 422/t). Para o trigo novo, com entrega em dezembro, os moageiros estavam dispostos a pagar US$ 265/t, enquanto a exportação paga US$ 245/t. No entanto, o setor não tem qualquer previsão sobre a data da liberação das primeiras licenças de exportação, as chamadas ROE.
– Não temos nenhum sinal de quando isso vai ocorrer. Mas sabemos que a liberação será muito lenta porque o governo vai querer assegurar para o mercado interno todo o trigo disponível, para não acontecer o que está ocorrendo agora – explicou Ferreccio.
O setor negocia com os deputados eleitos no último domingo para propor ao Congresso Nacional, a partir de dezembro, quando eles assumem, medidas para aliviar os produtores asfixiados pelos controles das exportações; carga tributária elevada e altos custos de produção.
– A maneira de mudar é por meio de medidas promovidas pelos novos parlamentares. A primeira delas é liberar as exportações e criar um esquema de retenções proporcionais à produção – disse Ferreccio.
A ideia é fixar um teto para a produção, que pagaria retenções, os impostos sobre as exportações. Se o produtor ultrapassar o volume previsto, ele poderia ser isento do imposto.
– Este setor se recupera rapidamente. Temos tempo até março, abril, quando tomamos decisão sobre a intenção de plantio. Podemos voltar a produzir 18 milhões/t de trigo de um ano para o outro – disse Ferreccio.