Muitos sojicultores continuam usando a semente RR na maior parte da lavoura. Há produtores que apostaram na tecnologia Bt, mas não fazem o refúgio adequado
Roberta Silveira | Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina
Nos três Estados do Sul do país, a Expedição Soja Brasil encontrou produtores que estão cultivando a soja Bt. Essa tecnologia oferece proteção contra lagartas, insetos que podem trazer grandes prejuízos para as lavouras, como é o caso da Helicoverpa armígera, mas ainda há muitas dúvidas entre os produtores sobre o manejo e a necessidade da área de refúgio.
• Entenda o papel do refúgio na preservação da tecnologia Bt
No Rio Grande do Sul, as lavouras de trigo começam a dar lugar para a soja. Visitamos a propriedade do agricultor Edson Gross, que fica em Santa Rosa, no noroeste gaúcho. Os 270 hectares são semeados com a soja RR, resistente ao herbicida glifosato. Em 15% dessa área, a semente é Intacta, que possui a tecnologia Bt.
– A lagarta não se dá bem ali. A toxina do Bt acaba incomodando o aparelho digestivo da lagarta. Lá, ela não vai. Só uma minoria resistente ataca. Com isso, você economiza inseticida para lagarta. Essa é a grande vantagem da soja Bt – comenta o consultor técnico do Soja Brasil, Áureo Lantmann.
O agricultor também lembra que a soja Intacta é mais sustentável do que ficar fazendo aplicações contra a praga.
– É menor volume de químicos jogados no meio ambiente. Expõe menos ao produto químico seu operador de máquina. É uma tecnologia que buscamos inserir dentro da lavoura – afirma Gross.
Soja Bt no Paraná
Visitando municípios do Paraná, a Expedição Soja Brasil também encontrou produtores que cultivaram semente Bt em boa parte da lavoura.
– Hoje tenho 30% da minha área com soja Bt. A gente começou ano passado com uma área menor e está acompanhando. Se a incidência de lagarta acontecer como tem acontecido, acredito que seja vantajoso – pondera o produtor Eucir Brocco.
Como já vimos, a soja Bt necessita de refúgio. Em 20% da lavoura, o cultivo deve ser feito com semente convencional ou RR, plantada à distância máxima de 800 metros da soja que tem a tecnologia contra as lagartas.
– Por que tem que existir lagarta no refúgio? Para que haja um cruzamento da lagarta resistente com aquela que não é resistente. É uma forma de abrandar esta questão da resistência. Porque se isso não acontecer você acaba criando só lagarta resistente. Daqui a pouco você perde a tecnologia. Tem que existir um grupo de lagartas sensíveis ao Bt. Se o refúgio não for adequado, só vamos ter lagarta resistente. E a tecnologia não vai funcionar – explica Áureo Lantmann.
Refúgio fora do recomendado em Santa Catarina
Conhecemos uma propriedade em Xaxim (SC) em que o produtor já plantou a soja RR, mas sem tecnologia Bt. Em outra área, ele ainda vai semear a soja Bt. O produtor considera ter feito o refúgio, mas pode não ter o efeito esperado.
– Cada agricultor está fazendo um refúgio próprio. Por exemplo, tem agricultor considerando refúgio a lavoura do vizinho que não é material Bt. Em alguns casos, ele já semeou o refúgio e vai plantar o Bt daqui a 10 ou 15 dias. Ele considera refúgio, mas isso não vai valer. Porque, na verdade, ela tinha que ser semeada no mesmo dia. Está acontecendo um chamado pseudo refúgio em algumas situações que a gente está observando – reforça o consultor do Soja Brasil.
No oeste do Estado, o produtor Vilmo Matté Filho vai plantar soja Intacta, mas ainda não sabe como fazer o manejo correto.
– Eu vou começar este ano. Vai depender da orientação do meu agrônomo (como vai fazer o refúgio). Não conversei com ele ainda, mas vamos conversar – diz Matté Filho.
A semente da Intacta custa, em média, o dobro das demais sementes RR. O produtor também precisa pagar royalties para usar essa nova tecnologia. O produtor gaúcho Rodrigo Lago, que tem propriedade em Passo Fundo (RS), acha que o investimento não vale a pena.
– O custo por hectare da semente da tecnologia acaba se tornando maior do que o controle com inseticidas, e, também, na nossa região a Intacta não entrou muito bem, por causa da produtividade. Ela perde para variedades da RR1 que a gente vem usando – afirma Lago.
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Acompanhe o trajeto da Equipe 2 da Expedição Soja Brasil: