A escassez do crédito para investimento na lavoura e para o auxílio à exportação não são as únicas preocupações. Uma possível queda do consumo mundial dos produtos assusta citricultores e cafeicultores. Se a população reduzir as compras de suco de laranja e do cafezinho, os prejuízos serão ainda maiores.
? Havendo um agravamento da crise, e a gente não sabe ainda as dimensões dela, pode haver uma diminuição de consumo ? diz o analista da consultoria Agra FNP Maurício Mendes.
No último mês da safra brasileira de laranja sobram frutas no campo. Cerca de 40% da produção do agricultor Antonio Simonete, por exemplo, ainda está no pomar. O número é o dobro para a época em comparação a uma colheita normal, mas ele diz que o difícil cenário da citricultura é bem mais antigo que o estopim da crise econômica mundial.
Apenas quatro companhias detêm 80% da indústria brasileira de suco de laranja, e uma das empresas, responsável por 20% da moagem, saiu do mercado há cerca de um mês. Parou de comprar laranjas devido aos prejuízos gerados pela crise econômica mundial. O produtor de citros, que nesta safra já enfrentou os altos preços dos insumos, falta de chuvas e o greening, doença que deforma a laranja e mata as plantas, agora tem que lidar com preços 50% mais baixos do que no inicio da colheita, em junho deste ano.
? O preço da laranja pago ao produtor foi menor porque havia um estoque maior do suco de laranja nos Estados Unidos. A partir de setembro, a crise financeira global passa também a ser um fator negativo com a relação dos preços porque começa a ter um enxugamento de consumo e a velocidade de consumo do estoque existente na mão dos compradores tende a ser menor ? explica Mendes.
Preços baixos e queda no ritmo dos negócios não são problemas exclusivos da laranja. O café também já começa a sentir os primeiros efeitos da crise.
? A primeira reação da crise financeira foi o pé no freio dos países importadores. O exportador não tinha garantias de preço nem de como ficaria a cotação do dólar, e por isso parou de negociar. Assim o café parou de ser comprado. Hoje falta mercado comprador e a margem de lucro está cada vez menor ? analisa o cafeicultor Sérgio Bronzi.
O café comercializado nas bolsas de valores seguiu a tendência de baixa em dólar assim como as outras commodities. E nem mesmo a valorização da moeda estrangeira frente ao real conseguiu compensar a queda na cotação do produto.
? O setor vinha dentro de um quadro interessante e o produtor acreditava que, como ocorre historicamente nos meses de novembro, dezembro e janeiro, o preço tenderia a aumentar. Veio a crise mundial e afetou o nosso café. Falar em expectativa é falar em decepção, pois o cafeicultor passa por um momento de incertezas ? diz o presidente da cooperativa de crédito rural de Araguari, em Minas Gerais, Ramon Rocha.