– Todos sabemos que existem dificuldades no setor cafeeiro. O preço internacional caiu muito nos últimos anos e a produção apresentou quedas acentuadas nos últimos cinco anos, mesmo assim, essa greve é inconveniente, injusta e desnecessária – declarou o presidente, em um discurso incitando os produtores a manter o protesto pacífico e abster-se da violência.
Desde domingo, dia 24, milhares de produtores de toda a Colômbia estão se mobilizando para uma marcha a fim de exigir que o governo eleve subsídios e freie importações de café.
– Vamos marchar todo o dia, de forma pacífica, até que nos ouçam – disse Oscar Gutierrez, um porta-voz dos produtores.
Milhares de produtores bloqueiam rodovias no chamado Eixo Cafeeiro (Região Cafeeira) ou Triângulo do Café. Os principais departamentos atingidos são Antioquia, Caldas, Huila e Santander.
Os cafeicultores da Colômbia, um dos maiores produtores de café do mundo, foram duramente atingidos por uma queda de 35% nos preços internacionais no ano passado e uma valorização de 10% do peso colombiano. Eles também reclamam do alto custo do transporte do café. Estima-se que 560 mil famílias devam seu sustento à cultura do grão, que, por décadas, foi um dos principais produtos de exportação. O cultivo no país é baseado na pequena propriedade de terra. A maioria das plantações não ultrapassa dois hectares.
A paralisação divide as forças políticas do país: Juan Manuel Santos é contrário à greve e o ex-presidente Álvaro Uribe, a favor. Santos reconheceu as dificuldades do setor, mas afirmou que, desde que tomou posse, em 2010, ofereceu aos produtores bilhões de pesos em créditos e subsídios. Chamando os agricultores para o diálogo, ele propôs a criação de uma comissão para discutir como lidar com os problemas enfrentados pela indústria.
O presidente detacou ainda que a “maioria dos cafeeiros” não aderiu aos protestos e lembrou que o movimento não tem o apoio da Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia. Na semana passada, o mandatário firmou um acordo com a instituição para amenizar os efeitos da crise para a economia cafeeira. O pacote de medidas anunciadas inclui estender o prazo de financiamento para os cafeicultores e aumentar o valor de créditos disponíveis.
Em seu pronunciamento, o presidente acrescentou que há motivos “políticos” por trás da greve.
– Atenção, porque há muitos interesses para enfraquecer a instituição cafeeira. Há quem queira interferir politicamente em benefício próprio. Não devemos jogar o jogo dessa gente – enfatizou.
Do lado contrário, está o antecessor de Santos, o ex-presidente Álvaro Uribe. Representante da direita no país, Uribe expressou seu apoio aos grevistas dizendo que todas as reivindicações são válidas.
– As palavras de Santos, em seu discurso contra a greve, não condizem com a verdade -opina.
O senador Jorge Enrique Robledo, do Polo Democrático Alternativo, representante da esquerda, também declarou apoio aos cafeicultores grevistas.
– O partido respalda a greve e se solidariza com o setor – anunciou.
A Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia divulgou nota de repúdio ao protesto: “A reflexão do presidente é lúcida. Nossa federação tem recebido importante ajuda financeira do governo nacional, desde o início de seu mandato”, diz o comunicado.
A produção de café no país caiu 12% em 2011 e menos de 1% em 2012. No encerramento do ano passado, a produção contabilizada foi de 462 mil toneladas (7,7 milhões de sacas de 60 quilos).