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Produtores de MT denunciam a baixa qualidade das sementes compradas

Expedição Soja Brasil encontrou relatos de sojicultores sobre sementes com até 40% de germinação. Em alguns casos, o grão estava mofado

Fernanda Farias | Santa Rita do Trivelato (MT)

A Expedição Soja Brasil recebeu a denuncia de produtores de Santa Rita do Trivelato (MT) sobre a qualidade das sementes compradas. A reclamação é com relação à baixa germinação e até sementes mofadas. Os sojicultores contabilizam os prejuízos e aguardam por uma resposta das sementeiras.

– Quando eu ouvi o boato na região que a semente estava mofada, e eu tinha o mesmo lote, fomos abrindo o lote e constatei que ela está mofada – relata o produtor rural Carlos Serra.

Além do cheiro, a cor é diferente de uma semente saudável. Na imagem abaixo, você verá que a semente da esquerda é mais opaca.

É possível notar a diferença entre uma semente mofada (à esquerda) e uma semente normal (à direita)  (Fernanda Farias/Canal Rural)
Pode-se notar a diferença entre uma semente mofada (à esquerda) e uma semente normal (à direita) (Fernanda Farias/Canal Rural)

– É uma vergonha, semente mofada nunca me aconteceu. Mesmo assim a gente fez um teste de germinação porque, com o plantio atrasado, se ela germinasse, nós plantaríamos. Mas não deu nem 40%. A empresa disse que pegaria de volta, mas não sei o que vão fazer – comenta Serra.

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São 880 kg da semente Intacta RR 2 que nem chegaram a ser plantadas. Cada pacote de 40 kg custou cerca de R$ 340. O prejuízo do agricultor foi ainda maior porque as sementes de outra marca (Bom Jesus) não alcançaram a germinação prevista no boletim de análise, que é de 83%. À campo, o índice chegou no máximo a 60%. E esse não é um problema isolado.

– Dos produtores que eu assisto, é o ano mais complicado dos últimos 20 anos. Muitas dessas sementes saíram em agosto das sementeiras. Elas saíram com qualidade X, e depois levou 60 dias para plantar. É complicado, porque o produtor só tem 10 dias para reclamar. A semente chegou muito anterior, e ele, por confiar no boletim que diz que até janeiro de 2015 tem 94% de germinação, ele acaba plantando – explica o engenheiro agrônomo Naildo da Silva Lopes.

O sojicultor Eneia Batistella comprou 61 toneladas de sementes da Pioneer. Em 14 toneladas, a germinação não ocorreu como previsto. A opção foi não replantar, para não dobrar os custos e arriscar a safra.

– É um material que eu gosto e venho plantando há anos, tenho talhões que eu cheguei a colher 63,8 sacos por hectare. Esse ano deve chegar a 30, 35 sacos, no máximo. Está completamente comprometida a colheita.

Visitamos uma propriedade que dá para perceber a diferença de qualidade das sementes. Uma marca conseguiu bom desenvolvimento, com stands bem estabelecidos e a soja se desenvolvendo bem. Ao lado, a semente de outra empresa, plantada no mesmo dia e não se desenvolveu. Foram quatro lotes e apenas 30% das sementes germinaram.

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– Isso, além de comprometer o rendimento, vai facilitar para as pragas e plantas daninhas. Alguém tem que indenizar esse produtor. Quem? A produção de sementes, que se responsabilizou por aquilo que estava escrito no laudo – salienta o consultor técnico do Soja Brasil, Áureo Lantmann.

O produtor afirma que está negociando com a empresa e deve receber um crédito em semente para a próxima safra. Mas reclama que a qualidade vem diminuindo a cada ano.

– Eu acho que deveria ter mais gente para fiscalizar, porque eu reclamo para fulano de tal, mas o processo demora e, até eu ter um documento na mão, já passou a época de replantar e eu fico na mão. Sempre o produtor paga o pato – protesta Eneias Batistella.

Durante o Circuito Aprosoja, realizado em outubro pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), foram colhidas amostras em mais de 400 propriedades. O resultado surpreendeu: mais de 25% das sementes tinham baixa qualidade. A entidade encaminhou pedido ao governo federal para uma fiscalização emergencial das sementes comercializadas nesta safra.

– Está faltando fiscal, falta gente, mão-de-obra para fazer isso. Para isso, a gente depende do poder público, para fazer vistorias, que acompanhe. Já falamos com o ministro, para tomar providências, ter gente trabalhando nisso – diretor técnico da Aprosoja-MT, Nery Ribas.

Aprosoja pede mais fiscalização

Na tarde dessa quinta, dia 20, durante assembleia da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), ficou decidido que a entidade cobraria fiscalização emergencial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sobre a qualidade das sementes.

Sobre o pedido, o Mapa afirmou em nota que vai analisar os critérios adotados na avaliação de sementes. Depois de concluída a análise, o Ministério pretende se reunir com os representantes do setor. Ainda não existe uma data definida para este encontro.

Outro lado

A Dupont Pioneer informou que adota os mais rígidos padrões de controle de qualidade, tanto na produção quanto no transporte da semente. E recomenda que os produtores prejudicados façam contato com a empresa, por meio dos representantes comerciais.

A Agroeste, que faz parte do grupo Monsanto, informou através de nota que tem conhecimento do caso e que vai tomar as providências necessárias.

O Grupo Bom Jesus informou que, até o momento, não recebeu nenhuma reclamação e se colocar a disposição dos produtores.

A Mocellin, empresa distribuidora de semente, se coloca a disposição dos produtores rurais para solucionar os casos de não conformidade técnica. Porém, alega que a qualidade da semente é responsabilidade do fabricante.

Clique aqui e veja o vídeo da reportagem.

Acompanhe o trajeto da Equipe 1 da Expedição Soja Brasil:

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