Seguradoras alegam que os agricultores começaram o plantio antes do indicado no zoneamento climático e que não haverá pagamento pelos prejuízos
Manaíra Lacerda | Sorriso (MT)
O governo de Mato Grosso decretou estado de emergência por 90 dias nos municípios de Ipiranga do Norte e Sorriso. A estiagem nestas regiões provocou quebra da safra de soja e, agora, os produtores precisam renegociar dívidas e acionar o seguro. O problema é que muitos plantaram fora do calendário de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) e as seguradoras não querer restituir as perdas.
A safra de soja em Sorriso, município com a maior área plantada em Mato Grosso, teve uma quebra de produtividade próxima de 15% em comparação ao último ciclo. A média colhida não passa de 50 sacas por hectare, enquanto na última temporada o resultado chegou a 58 sacas por hectare. Após muitos pedidos do setor produtivo, o governo estadual reconheceu na última semana o estado de emergência, o que possibilita aos agricultores renegociar as dívidas acumuladas em 2015.
– O estado de emergência se traduz em um expediente que o produtor poderá utilizar para convencer seus credores ou parceiros de negócios em contratos futuros, para que isso seja renegociado de tal forma que ele tenha condições de continuar na atividade e quitar em um futuro próximo – explica o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do estado (Aprosoja-MT), Elso Pozzobon.
Se as renegociações de vendas antecipadas e os financiamentos foram resolvidos, os sojicultores não podem falar o mesmo quando o assunto é seguro rural. Algumas empresas já avisaram que não vão restituir o valor pedido em áreas que foram plantadas antes do dia 1º de outubro, data de início de plantio da soja, segundo o calendário do Zarc, que é a referencia para o seguro agrícola. O argumento dos produtores é de que eles seguem a recomendação do vazio sanitário estadual, que libera o plantio a partir de 15 de setembro.
– O produtor nem tinha conhecimento de existia essa norma delimitando prazo de plantio. Sabendo que a ocorrência foi real, eu acho que é trabalhar para convencer a seguradora a cobrir esse prejuízo que ele teve – avalia Pozzobon.
O agricultor Ildo Damiani é um dos afetados por esta situação. Ele plantou 700 hectares de soja, sendo que boa parte da área assegurada enfrentou quebra de produção. São 230 hectares com apenas sete sacas por hectare. Quando ele precisou acionar o seguro, os problemas começaram.
– Eles condenaram toda a área, sendo que apenas uma parte foi plantada entre 29 e 30 de setembro. A maior parte foi plantada a partir do dia 1º de outubro, mas eles não querem nem saber. Falaram que a parte não será paga por este motivo. Mais de 50% do seguro eles alegam que não vão me pagar. Talvez dê para arcar com os custos, mas o prejuízo vai ficar nas parcelas de máquinas, temos que sobreviver nesses meses, tudo será mais sofrido – critica Damiani.
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