Investimento inicial é de R$ 7 milhões e, segundo produtor, é possível recuperar isso em até seis safras
André Anelli, de Sebastião Leal (PI)
No Piauí, produtores adotam técnicas diferentes para garantir a margem de lucro. Enquanto alguns investem na correção do solo para melhorar a produtividade. Outros apostam na redução de custos, principalmente nos gastos com energia elétrica. A única coisa em comum é que as duas estratégias deram certo por lá.
Na região conhecida como Matopiba, que engloba Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, uma propriedade investiu R$ 7 milhões na instalação de uma usina de energia solar. O objetivo é reduzir os altos custos de produção agrícola, observados em todo o estado. Aplicações consecutivas de calcário contribuem para o aumento de gastos dos produtores.
Certamente já ouviu falar de vagens de soja com quatro grãos. O que deveria ser raro, é comum na propriedade de Rubens Fridrich, em Uruçuí, região sudoeste do Piauí. O resultado demonstra alta produtividade que só foi atingida com aplicação de mais de nove toneladas de calcário por hectare, desde a abertura da área.
“Isso serve, principalmente quem tá abrindo área, já que está trabalhando em um novo padrão de tecnologia, né. Quando a gente abriu aqui, usava um percentual menor. E com as correções ao longo do ano, já chegou a muito mais que isso, tem áreas com acumulado maior. Mas uma abertura top de linha como o pessoal tá fazendo, é isso, 8, 9, 10 toneladas. Dependendo do que o bolso aguentar”, conta Fridrich.
A aplicação de calcário acima da média eleva os custos de produção em pelo menos 30%. O presidente da Aprosoja no estado diz que a baixa qualidade das rochas e a dificuldade de extração do calcário motivam o uso acima do normal.
“As jazidas de calcário do Piauí são diferentes dos outros estados do Brasil. Elas são compostas de camadas e entre uma camada e outra, tem muita terra. O manejo e a qualidade da rocha fazem com que caia muito a qualidade do calcário em PRNT e granulometria também”, diz o presidente da entidade, Altair Fianco.
Para compensar os altos custos de produção local, uma outra propriedade investiu R$ 7 milhões na criação de uma usina fotovoltaica, de geração de energia solar. Por ano, a economia é de um R$ 1,3 milhão, ou seja, em seis anos, todo o investimento será recuperado.
A aposta na tecnologia se justifica ainda mais, já que a propriedade trabalha com beneficiamento da produção agrícola. “A partir do momento que as unidades passaram a beneficiar seu produto, com armazenamento e produção de sementes, houve essa demanda energética. Os equipamentos pós-colheita são todos movidos a eletricidade, por exemplo”, diz gerente industrial da fazenda, Odirlei Eltermann.
Durante um dia de sol intenso, as mais de cinco mil placas instaladas na fazenda conseguem gerar energia suficiente para abastecer 54 casas de consumo médio, por um mês. Mas à noite, a geração é zero. O excedente produzido durante o dia é lançado na rede elétrica, para compensação na conta no final do mês.
“Os horários de maior geração não necessariamente são os horários de maior consumo. Essa diferença de energia no período diurno é exportada para concessionária, onde não há comercialização e sim apenas crédito em unidade de energia. Ao final do mês é feita uma conta corrente, verificado o saldo de energia injetada e a quantidade que buscou da concessionária. Essa diferença pode se tornar créditos para o mês subsequente ou uma cobrança da fatura a mais do que você gerou”, explica Eltermann.
Uma usina de energia solar ainda não está nos planos do rubens. para conseguir lucro na lavoura, a estratégia dele, por enquanto, é manter o investimento em correção da acidez do solo, mesmo com alto custo. “Está se fazendo porque é viável, senão ninguém fazia. A nossa região é boa e se faz porque paga, remunera, senão não estávamos aqui”, diz Fridrich.