Produtores fazem tratoraço contra MST em Castro/PR

Fazenda da Fundação ABC no município é ocupada pelo MST há quase 10 dias; fazenda da FEALQ, em Londrina, também foi invadida

Produtores rurais protestam, na manhã desta quinta, dia 3, contra a invasão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em uma fazenda da Fundação ABC, em Castro (PR). Devido à ocupação, que dura no mínimo oito dias, na semana passada os agricultores foram impedidos participar de um dia de campo com pesquisadores. A prefeitura cedeu um local par ao evento hoje, e os produtores aproveitaram para se manifestar. 

– Apoiamos há mais de 20 anos a pesquisa aplicada em nossos campos. Na semana passada, fomos impedidos de participar de um dia de ampo na Fazenda Cipó – conta um produtor presente no tratoraço no centro da cidade, onde a a fundação presta asssitência aos produtores.

Segundo o gerente-geral da Fundação ABC, Elteje Jan Loma, ao menos cerca de 150 famílias permanecem no local. Ele disse que a relação é “amigável”, que eles continuam conduzindo as pesquisas de inverno que já estavam instaladas no local. As pesquisas de verão, no entanto, estão comprometidas, e a Fundação tenta encontrar uma segunda via para iniciar os trabalhos. As negociações ainda estão em andamento e, até o fim desta semana, uma reunião com o Incra pode solucionar o problema.

No fim de agosto, representantes do MST, do Incra e da Fundação ABC se reuniram na prefeitura de Castro para decidir o que fazer com os 400 hectares da União. Há cerca de 40 anos, as terras são usadas para pesquisas agropecuárias da Fundação ABC em parceria com universidades, trazendo benefícios para toda a região. O contrato com o Ministério da Agricultura (Mapa) venceu em 30 de abril do ano passado.

 A Justiça Federal exigiu a saída do grupo da Fundação ABC, que não acatou e pediu mais uma vez apoio ao poder público. A prefeitura vem negociando com a União há pelo menos 10 anos. Apesar disso, a União já concedeu o espaço ao Incra, que pretende montar ali um assentamento. 

– O que tem hoje é que é uma área pública e que iria a leilão, então o Incra já se candidatou, pois tenho famílias acampadas no Paraná e preciso de terra para assentar essas famílias – explica o superintendente do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes. 

Diante disso, o MST resolveu pressionar.

 – Todo mundo sabe que se não existir a pressão não vai para frente. A reforma agrária só existiu no Paraná em áreas onde o Movimento dos Sem Terra tomou iniciativa, fez ocupação; depois, o governo federal vem, compra a terra e faz o assentamento – afirma o agricultor Luís Antônio Riba.

Há mais de 20 anos, a Fundação ABC gera informação para cerca de 4 mil produtores rurais da região e realiza pesquisas sobre melhoramento de pastagens para a produção de leite, além de estudos sobre manejo de pragas e ervas daninhas e rotação de culturas.

MST em Londrina

Há 17 dias, a Fazenda Figueira, em Londrina, também no Paraná, está ocupada pelo MST. A propriedade de 3.900 hectares é usada para estudos agropecuários da Fundação Luís de Queiróz (FEALQ). A reintegração de posse já foi emitida pela Justiça, mas o movimento alega que só sairá da área quando o Incra emitir um documento comprovando a produtividade da fazenda. O MST exige uma área de 10 mil hectares para que as 1.200 famílias desocupem o local.

As pesquisas científicas estão suspensas. As universidades de Londrina e Maringá, no Paraná, e Piracicaba, em São Paulo, utilizam as
terras. Alunos frequentam os currais, pastos e lavouras diariamente.

O grupo alega que a fazenda foi comprada de maneira irregular pelo seu antigo proprietário, Alexandre Von Pritzlwitz, que doou a propriedade à FEALQ após falecer, em 2000. A Fazenda Figueira possui grandes remanescentes florestais nativos, protegidos na forma de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). 

Segundo o MST, diversos estudantes do Levante Popular da Juventude, da Entidade Nacional de Estudantes de Biologia (ENEBio) e de centros acadêmicos da USP declararam apoio às famílias. Em nota, estudantes argumentam que “apenas 350 dos 3.700 hectares da fazenda são destinados à pesquisa, na área de gado de corte, o que revela ociosidade no uso da terra e distanciamento da pequenos produtores de leite da região”.