Os produtores nacionais também se queixaram de não ter acesso aos insumos produzidos nos países parceiros e utilizados em larga escala nas lavouras, como óleo diesel e fertilizantes, o que seria fundamental para ampliar a disputa de mercado, tendo em vista que o Brasil é hoje o maior produtor mundial de arroz fora da Ásia, enquanto o Rio Grande do Sul já é o primeiro do mundo em produtividade por hectare com arroz irrigado.
Embora ressaltem que a indústria tem o direito de comprar seus insumos onde quiser, os produtores lamentam que a mesma regra não seja seguida no que se refere à comercialização dos grãos no Mercosul. Eles explicaram ainda que tudo que é produzido pela indústria do Sul do Brasil pode ser adquirido por um preço mais em conta no outro lado da fronteira.
Se uma colheitadeira produzida em Horizontina (RS) é vendida no Brasil por R$ 311 mil, o mesmo equipamento, exportado para a Argentina, custa o equivalente a R$ 243 mil naquele país. Já um trator brasileiro custa em média R$ 79 mil é vendido na Argentina por R$ 55 mil, o que acaba tornando mais vantajosa a aquisição desses produtos nos países vizinhos.
Os representantes dos produtores de arroz e trigo defenderam um ajuste de simetria nas regras comerciais do Mercosul. Para o presidente nacional da Câmara Setorial do Arroz, Francisco Schardong, o arroz, o trigo, o leite e o vinho produzidos no Sul do Brasil acabam servindo como uma moeda de troca na manutenção do livre comércio de exportação do bloco comercial, cujo processo de integração foi iniciado em 1991.
? Essa parceria não está tendo nem ônus nem bônus, só favorece a indústria do Mercosul. O livre comércio não vale para os produtores rurais. Se a indústria pode comprar arroz de quem desejar, queremos ter condições de comprar insumos deles ? afirmou.
Schardong disse que o custo de produção no Uruguai é 30% menor que no Brasil. Ele contou que muitas indústrias compram o produto no Mercosul e que, para escapar das taxas cobradas no Brasil, os navios com a carga seguem direto para os portos do Norte e do Nordeste, onde a cobrança de imposto é zero. A partir dali, o produto é distribuído às grandes redes de supermercados das duas regiões, onde, por problemas de logística, a produção nacional dificilmente chega à população.
? Se olharmos hoje, o arroz do Mercosul trabalha como indexador do preço. Hoje, negociamos o arroz a R$ 19 a saca, quando se busca preço mínimo de R$ 25,80 e o custo da produção é de R$ 29. Isso é uma questão difícil de resolver ? afirma.
Eles também cobraram a criação de mecanismos de socorro para a comercialização do arroz; estímulo à produção de trigo; e pressa do governo no credenciamento de armazéns para abrigar o estoque regulador de grãos.