Agricultores que utilizam o Ribeirão Entre Ribeiros se uniram para garantir o abastecimento nas propriedades da região; eles pedem fiscalização para evitar a captação irregular
Roberta Silveira | Paracatu (MG)
No noroeste de Minas Gerais, agricultores que utilizam a irrigação se organizaram e decidiram restringir o uso da água quando o nível do rio da região está baixo. O motivo é o período sem chuvas. Por outro lado, a Associação dos Produtores denuncia a falta de fiscalização nas captações irregulares de água.
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Nas lavouras visitadas no Estado, os pés de soja evoluem bem, mas poderiam estar com desenvolvimento melhor, se o plantio não fosse atrasado pela falta de chuva.
– Normalmente, nós plantamos no início de outubro, quando acaba o vazio sanitário. Este ano, especialmente por falta de água, a gente teve que esperar até meados de novembro. Isso vai trazer que consequência? A gente vai perder uma safra. Porque depois da soja, vem o milho semente e, depois, o feijão. Já o feijão não vai ser possível plantar – lamenta o produtor rural Norton Komagome.
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Mesmo com os pivôs, Komagome teve que esperar a chuva. A irrigação é, sim, utilizada, mas não é só quando o agricultor deseja. O que determina é o leito do Ribeirão Entre Ribeiros. Este ano, o nível do rio da região caiu muito, ficou 52 cm e os produtores tiveram que tomar uma medida drástica.
– A gente determina o prazo final de plantio da safra de inverno. Ou seja, se o rio tem disponibilidade de água, vamos plantar até dia 15 de junho. Se não dá, como foi o caso deste ano, que sofremos o efeito da estiagem do ano passado, nós encerramos o plantio de milho em 15 de maior e o de feijão irrigado em 30 de maio – explica o vice-presidente da Associação de Apoio ao Projeto de Entre Ribeiros, Adson Ribeiro.
Desde que a medição começou a ser feita, em 2008, este foi o ano em que o Entre Ribeiros chegou ao seu menor nível até então. São doze estações de medição ao longo do rio. A marcação está em 90 cm de altura d’água, mas, nesta época do ano, o normal seriam dois metros ou mais.
Canais conduzem a água para as propriedades. O ribeirão é usado na irrigação de mais de 50 mil hectares em Paracatu e Unaí. Parte dessa área é gerida pelos próprios agricultores, que decidem quando parar de captar a água. Eles acreditam que a falta de chuva não é a única responsável pela diminuição do nível do rio.
– A bacia do Entre Ribeiros, ela é considerada uma área de conflito, porque há mais demanda que oferta hídrica. Então, a gente tem que fazer uma gestão desta bacia – afirma Adson Ribeiro.
A Associação é contra a liberação de novas outorgas para o uso do ribeirão e também pede a construção de barragens. Outra reclamação é a falta de fiscalização do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).
– Estima-se que 20% das captações são irregulares, e o Igam não toma medida nenhuma sobre isso. Nem órgão público, estadual, nem órgão federal, ninguém toma providência nenhuma – reclama o presidente da Associação de Apoio aos Produtores do Projeto Entre Ribeiros, Luiz Otávio Teixeira de Noronha.
Tanta preocupação é porque a agricultura da região depende do Ribeirão Entre Ribeiros. As águas deságuam no Rio Paracatu, que é afluente do São Francisco.
– Ainda bem que nós temos um pouco de organização e consciência, porque se não tivéssemos, talvez os prejuízos fossem maiores do que deixar de plantar dois ou três meses, como alguns produtores ficaram. Porque, se perder uma safra depois de implantada, é muito mais caro do que deixar de plantar – completa Noronha.
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