A área de milho no Médio-Norte de Mato Grosso, região visitada pelo Rally da Safra 2017, deve ser ampliada mesmo com o recuo dos preços no Brasil nas últimas semanas. Produtores citaram a perspectiva de um calendário de plantio mais favorável do que no ano passado, a compra de insumos já fechada e a expectativa de cotações ainda remuneradoras para o milho durante este ano como fatores que estimulam o investimento no cereal.
Além disso, a avaliação dos produtores é de que o pico de preços do milho em 2016 foi uma oportunidade interessante para venda, mas que dificilmente deve se repetir em um cenário de normalização da produção no Brasil. “Nós ainda temos um bom preço. O que a gente viu (no ano passado) foi atípico, nunca tinha acontecido essa saca de R$ 25, R$ 30, R$ 35, isso não é padrão e o produtor não pode ficar sonhando com esses preços”, disse o produtor Rodrigo Pozzobon, que planeja cultivar 1.800 hectares de milho segunda safra neste ano, 1.400 hectares em Vera e outros 400 hectares em Diamantino. No ciclo anterior, ele semeou 1.260 hectares em Vera e 260 hectares em Diamantino.
A perspectiva é colher soja cedo, até dia 20 de fevereiro, e ter essa área de milho de inverno toda plantada até lá. “Planejo essa área pensando no plantio até dia 20 de fevereiro.” Se precisar, Pozzobon revela que poderá estender a semeadura até 1º de março, uma vez que já tem a semente e o adubo necessários para a safrinha e seria difícil revendê-los a outros produtores no fim do período de plantio. No ciclo anterior, ele obteve 101 sacas de 60 kg por hectare em Vera e 90 sacas por hectare em Diamantino, mas a expectativa agora é obter 115 sacas por hectare em ambas com a perspectiva de um clima mais benéfico.
Chuvas
“Se der um ano normal de chuvas, em que a chuva não corte cedo, dá certo. Se não chegar aos 115, deve ficar muito perto, 110 e 113 sacas por hectare.” Ele já negociou milho da safrinha 2017 a R$ 17 e R$ 22 por saca antecipadamente. “Milho vendido a R$ 18 aqui é tranquilo, produtor tem sua margem de lucro. O milho a R$ 25, R$ 30, R$ 35 por saca é bom para nós, mas mata o granjeiro em São Paulo, no Sul, aí daqui a pouco eles matam as matrizes, diminuem o consumo e nós é que ficamos sem vender o milho, e eles compram milho barato”, apontou. Com isso, mesmo com o recuo no preço do cereal, a intenção de plantio deve se manter. “A não ser que o preço do milho venha a R$ 10 por saca, aí produtor pensa duas vezes se não coloca outra coisa, porque não paga os custos.”
La Niña
O produtor Leonildo Bares, de Sinop, revelou que pretende aumentar para 800 hectares a sua área de milho este ano com a perspectiva de condições climáticas mais favoráveis, após a transição de El Niño para La Niña, do que no ano-safra passado, quando plantou menos por causa da perspectiva de clima desfavorável. “Vamos para uma boa safra. Como em Mato Grosso, produtor se estruturou e vai plantar mais milho, podemos ter um recorde de milho no estado.”
Ele relatou que no ano passado plantou só 300 hectares do cereal, por causa da perspectiva de um El Niño muito forte. “Quanto tempo de chuva você precisa no milho para dar safra? Você vai precisar de 75 dias para ter uma safra boa, 60 dias para uma razoável, e, com menos de 60 dias de chuva, você já vai ter prejuízo no milho”, ponderou. Com isso, ele planejou a segunda safra do ano passado tentando minimizar o risco climático.
“Eu levantei os quatro melhores modelos de previsão climática; três deles mostravam que ocorreria a última chuva no dia 4 de abril, o sul-americano mostrava no dia 10”, comentou. “Com base nisso, eu plantei meu milho até o dia 10 de fevereiro, só tinha tempo para 300 hectares, plantei e parei.” A partir desse planejamento, conseguiu limitar perdas e obter 110 sacas por hectare. “Minha decisão é aquilo que os números estão mostrando.”
O supervisor da região norte da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Eliandro Zaffari, relatou que o milho na região já está sendo semeado com a retirada da soja. “A maioria dos produtores já colhe e vai plantando o milho”, disse.
Ele acredita que haverá um aumento no plantio no município principalmente em virtude de questões de calendário. “No ano passado, o atraso no plantio por causa da seca fez com que muitos produtores perdessem o tempo de plantio, o que fez com que a área fosse um pouco menor. Este ano, como está correndo tudo bem e a colheita já está intensificada agora no mês de janeiro, a área de milho pode ser aumentada.”