Para Silveira, o incremento na área de lavouras poderia ser maior, pois “há muitos pecuaristas que resistem em arrendar área e não dispõem de capital necessário para investir em lavouras de grãos”. Ele acredita que se o mercado continuar bom para os grãos, “a incorporação de pastagens continuará a ser a grande tendência”.
O pasto tem se firmado como “a nova fronteira” agrícola num cenário em que se acentuam as restrições ao desmatamento e também em lugares nos quais, na verdade, já quase não há mata nativa a ser derrubada. Além disso, dependendo da região e da distância em relação aos polos produtores, desmatar já não é economicamente viável.
Segundo estudo do professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Gerd Sparovek, o país dispõe de 60 milhões de hectares de pastagens com elevada ou média aptidão agrícola, dos quais boa parte cedo ou tarde será convertida em lavoura para atender à crescente demanda mundial por alimentos.
Nos cerrados do Centro-Oeste, embora a compilação de dados do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) compreenda o período de 2005 a 2008 ? “Quando a expansão da soja ainda não tinha sido tão acentuada”, explica o diretor geral do instituto, André Meloni Nassar ? as pastagens já podem ser consideradas as grandes doadoras de terras para a expansão das lavouras de grãos.
Em Canarana, no leste de Mato Grosso, região tradicional na pecuária, o vice-presidente do Sindicato Rural, Arlindo Cancian, cultivou, na última safra, 450 hectares de soja. Na próxima, serão 600 hectares, cuja diferença avançará em pastos degradados.
Além de agricultor, Cancian é pecuarista e aproveita para recuperar pastos com lavoura, no sistema de integração lavoura-pecuária.
? Produzo soja, milho, sorgo e milheto e tenho 700 cabeças de gado de corte. Quando sai a lavoura, entra o gado nos restos de cultura. Assim vou recuperando a pastagem ? explica.
Do total de 1,87 milhão de hectares do município, 450 mil hectares são de pasto, a maior parte precisando de reforma, diz o produtor.
? E é nessas áreas que o plantio de grãos, sobretudo o de soja, crescerá por aqui, de 128 mil hectares na safra passada para 150 mil hectares na próxima safra ? continua Cancian, acrescentando que a recuperação de pastagens tem ocorrido desta forma, com lavoura em cima. Para Cancian, com a integração “é possível colocar mais animais por hectare e ter renda maior também na pecuária.”