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Rural Notícias

‘Entreguei colhedeira, caminhão e caminhonete e ainda estou endividado’

Agricultores de Gaúcha do Norte (MT) enfrentam um cenário desfavorável de custos desde a safra 2015/16; nos últimos cinco anos, 30 produtores do município já abandonaram o campo

Mais de 30 produtores de Gaúcha do Norte (MT) abandonaram a atividade nos últimos cinco anos, segundo o sindicato rural do município. Mesmo aqueles que continuam no campo, como é o caso do agricultor Ari Baltazar Langer, estão endividados. “Já perdi duas áreas de terra. Entreguei colhedeira, caminhão, caminhonete e ainda estou muito endividado”, conta.

Langer estima que a dívida, principalmente dos arrendatários, corresponde à metade da renda de uma safra. “Daria uns seis anos para quitar. Se contar os juros absurdos que os bancos cobram, vai mais de seis anos”, diz.

A vice-presidente do sindicato rural, Neuza Wessner, afirma que boas áreas agricultáveis não faltam. Ela diz que a renda — apesar de menor em relação a outras cidades próximas — também não era ruim. Porém, os custos e os impostos vêm aumentando.

Neuza conta que a situação começou a sair do controle na safra 2015/2016, quando a região viveu uma forte estiagem. Ela diz que os financiamentos dos produtores foram prorrogados, mas a juros altos. “No ano seguinte, o problema só aumentou, porque tínhamos os custos daquela mais os da anterior. [O agricultor] Começou a não conseguir honrar com os seus compromissos, muitos perderam o CPF. Virou uma bola de neve”, relembra.

Os casos se multiplicam

Quatro anos atrás, Norberto Zeidler trocou a vida de agricultor pelo comércio. A decisão foi motivada pelas dificuldades e frustrações com a atividade. “A gente gosta de produzir, mas infelizmente ficamos de mãos amarradas. Isso dói bastante, porque tem toda uma história por trás, a do meu pai e do meu irmão”, conta, emocionado.

A dívida acumulada pelo produtor Romeu Volkweis nos últimos quatro anos o deixou sem acesso a crédito rural. Sem dinheiro para custear a próxima safra, ele ainda não sabe como cultivará a área de 3.100 hectares destinados ao grão na temporada 2019/2020. “Faz dois meses que estamos correndo atrás e não sabemos se vamos conseguir. Vamos depender das tradings, porque o banco zerou”, diz.

Nos últimos dois anos, a lavoura não pagou os custos de Alcides Zemolin, que precisou recorrer à pecuária. “A agricultura não está dando conta mais, não”, lamenta.

Problemas na pista

Norberto Zeidler conta que faltam estradas no município mato-grossense de Gaúcha do Norte e que o alto custo do combustível faz todos os insumos aumentarem também. As rodovias MT-129, MT-427 e BR-242, principais acessos, ainda são de chão. A promessa de pavimentação se arrasta há duas décadas.

A vice-presidente do sindicato local diz que a cobrança do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) foi dobrada nos dois últimos mandatos. Os recursos desse imposto deveriam ser destinados à logística do estado. “Contribuímos e não tivemos o prazer ainda de escoar a nossa produção em uma rodovia pavimentada. E o impacto não é só esse: anos atrás, quando começou o movimento da BR-242, várias empresas compraram terrenos para se instalar. Como as obras não foram concluídas, elas acabaram se instalando em outros pontos da região”, diz.

A reportagem do Canal Rural percorreu toda a extensão da MT-129. O caminho é estreito e cheio de buracos, pontes de madeira e reclamação de motoristas. “Quando falam em pegar frete para esses lados, a gente pensa bem. Tem vezes em que o chefe não manda porque desgasta muito o caminhão. Já cheguei ficar parado uma noite inteira com o caminhão quebrado”, afirma o caminhoneiro José Ferreira Mathias.

Para o agricultor Rafael Locatelli, se os produtores pegassem todo o dinheiro destinado até agora ao Fethab e investido na logística, o problema já teria sido resolvido.

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