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PERDAS IRREPARÁVEIS

Produtores paulistas sofrem com destruição na cana e no seringal causada pelos incêndios

Há gerações na mesma propriedade, agricultores viram Áreas de Preservação Permanente e culturas virarem pó

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Foto: Governo do Estado de São Paulo

O ano de 2024 está prestes a se tornar o ano com o maior número de focos de incêndio da história de São Paulo. De acordo com o Instituto de Pesquisas Espaciais, já são quase 7.200 focos registrados no estado.

Na propriedade do produtor Jorge Toledo, na região de Monções, no oeste paulista, por exemplo, o fogo se alastrou rapidamente. Por lá, 100 hectares de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e 200 hectares de cana-de-açúcar foram queimados.

“Quanto às APPs, é um prejuízo que eu não sei mensurar e nem sei como retornará. Na cana, a perda de produtividade foi entre 30% e 40%. Além disso, vamos ter de reformar toda a pastagem, porque foi toda queimada […]. Financeiramente ainda não sei falar o número certo [de prejuízo], mas foi muito alto”.

Cana vira pó

De acordo com a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), mais de 181 mil hectares da cultura foram queimados em São Paulo até agora. O prejuízo já supera um bilhão de reais, incluindo manejo e custos de replantio.

O CEO da entidade, José Guilherme Nogueira, as plantas de cana maiores, com mais idade, ainda são possíveis de colher, mesmo com uma perda de biomassa estimada em cerca de 50%. “Mas na palhada, se perde totalmente a cana; aquela cana de dois, três, quatro meses vira pó”.

Seringal perdido

A temperatura acima de 30ºC, a unidade relativa abaixo de 30% e as rajadas de vento estão contribuindo para que os incêndios se propaguem facilmente.

O fogo se espalhou da propriedade do Jorge Toledo para a fazenda vizinha, em Turiúba. Assim, atingiu o seringal do produtor Juliano Bini.

“Seis alqueires de mato queimou em cerca de 20 minutos e se alastrou. Minha seringueira é plantada em volta do mato e se espalhou. Não tivemos o que fazer. Teve gente que precisou cuidar de salvar pasto, gado, benfeitoria, mas a seringueira, como é mais difícil de combater o fogo porque não dá para andar com o caminhão e com o trator em volta da árvore, não teve como salvar”.

Ao todo, Bini perdeu 15 mil pés de seringueira, uma árvore que demora cerca de nove anos para começar a produzir o látex. “O fogo corre pelo chão, ‘cozinha’ a árvore e fecha os seus vasos. Com isso, ela para de produzir. Por isso o prejuízo é tão grande, porque não tem o que fazer, é preciso arrancar”.

Incêndios sem precedentes

A história dos produtores se repete em outros pontos do estado de São Paulo. Entre 22 e 24 de agosto, os focos de calor se concentraram em áreas de uso agropecuário, conforme o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

“Em um curtíssimo espaço de tempo, apareceram dezenas de focos de incêndio no estado de São Paulo. Esse é um um fenômeno que não existe precedente e também não tem explicação na natureza. Fogo em geral acontece no estado de São Paulo, na região central do Brasil, muitas vezes causados por raio, por outros fenômenos, além das queimadas provocadas para reformar pastagem, mas nunca nessa intensidade e em um prazo tão curto de tempo”, diz o diretor do órgão, André Guimarães.

Dano emocional

As cenas do fogo consumindo as lavouras representam uma ameaça à oferta de alimentos e energia, mas também à saúde pública, fauna e flora, bem como ao equilíbrio do ecossistema. Além disso, têm impacto emocionalmente os produtores que há anos estão instalados na mesma propriedade, assistindo a tudo se destruir.

“Pela primeira vez na vida eu achei bom meu pai não estar lúcido para ele não enxergar isso aqui. Ele não está sabendo o que que está acontecendo. É triste demais chegar e ver a propriedade destruída. Não sobrou nem cobra aqui, não tem mais nada”, relata o produtor Jorge Toledo.

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