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A propriedade Boa Sorte, do produtor rural Carlos Apoloni, no município paranaense de Quarto Centenário, na região oeste do Estado, conta com dois armazéns. Apoloni está à frente dos negócios.
– Costumamos armazenar até a chegada da próxima safra. Mesmo porque não existe espaço para receber duas safras ao mesmo tempo, manter a anterior e colher a nova no mesmo local – explica o produtor.
Apoloni conta que desde a época de seu pai, a família já trabalhava com sistema de armazenagem. João Apoloni produzia cereais e já entendia das vantagens de guardar o que colhia na fazenda.
– A gente consegue obter um valor de venda um pouco maior do que na cooperativa, e temos a segurança de o produto estar guardado conosco. Podemos acompanhar a situação e fazer negociação carga a carga. O peso e a classificação saem da fazenda, então tudo fica sob nosso controle – explica Apoloni.
O primeiro silo foi construído na fazenda na década de 70, com financiamento do governo federal. O segundo, com pouco mais de 10 anos, foi criado com recursos próprios. A família planeja construir um terceiro silo. Os armazéns são de alvenaria, bem diferentes daqueles verticais, feitos de zinco, mais comuns nas propriedades. O produtor explica que essa estrutura é mais fácil de ser construída.
– Como ele tem menos dependência de máquinas e motores elétricos, a parte da manutenção fica mais econômica. Ele é feito praticamente de alvenaria e cobertura.
Os silos da fazenda Boa Sorte têm capacidade para 260 mil sacas de grãos. Um deles está abarrotado de soja e outro guarda milho. Apoloni lembra que investiu o equivalente a 30 mil sacas na construção do último silo. Com soja armazenada, o produtor consegue até 10% a mais no preço. No milho, o valor chega a ser 15% maior.
– O produtor que tem armazém possui vantagem competitiva em relação a outros produtores porque, ao vender, comercializa o grão seco e limpo, leve de impurezas, e acaba tendo uma receita maior para o seu produto – aponta o presidente da Vanguarda Agro, Arlindo Moura..
Com experiência de 30 anos no mercado agrícola, incluindo uma das maiores empresas de equipamentos para armazenagem do Brasil, o executivo Arlindo Moura cita outra grande vantagem para quem tem armazém na propriedade.
– É em relação ao frete. O produtor pode deixar no seu armazém e, depois, transportar esse produto para o porto, para seu cliente, em uma época em que o preço do frete esteja mais barato.
A estratégia é adotada pelo jovem produtor Pedro Favoreto Filho, de 26 anos. Ele assumiu parte dos negócios da família depois que o pai morreu em um acidente de carro. Favoreto relata que teve a ideia de construir os silos em uma das fazendas em Sertanópolis, no norte do Paraná. O investimento chegou a R$ 5 milhões. Segundo ele, foi tão vantajoso que a obra já estava paga em um ano. O produtor vai ampliar a estrutura, construindo outro armazém com capacidade para 30 mil toneladas. Hoje, a capacidade é de 24 mil toneladas, das 100 mil que ele colhe por ano com soja e milho. Segundo o produtor, quem tem mais de 500 hectares de plantação, tem que ter silo, já que a relação custo-benefício é muito boa.
Na carona do crescimento do agronegócio e na necessidade do produtor, a indústria se beneficiou nos últimos anos. A Kepler Weber, no Rio Grande do Sul, que vende projetos e equipamentos para armazenagem, mais que dobrou os investimentos para este ano – de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões por ano, para R$ 60 milhões. A fábrica vai ampliar a produção de silos e investir em tecnologia para melhorar a qualidade dos equipamentos. A expectativa do diretor é de que os incentivos do governo se mantenham.
– Acho que quanto à armazenagem, o setor privado, as cooperativas e o grande produtor cuidam melhor do que o governo. Não é demérito do governo, mas em função das prioridades, acho que cabe a ele incentivar e cabe ao setor privado executar – destaca o diretor-presidente da Kepler Weber, Anastácio Fernandes Filho.