Em Mato Grosso, a quebra da segunda safra de milho deve superar as 15 sacas por hectare, em média, na comparação com a temporada 2019/20. É o que aponta a última estimativa do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), que atribui a diferença ao plantio tardio e à falta de chuvas durante o desenvolvimento das plantações.
O agricultor Ari Baltazar Langer diz que a primeira frustração que teve com o clima neste ano foi em fevereiro. Na época, o excesso de chuvas atrapalhou a colheita dos 3,4 mil hectares de soja cultivados na propriedade situada em Gaúcha do Norte.
“Na hora de colher, começou a chuvarada. Dentro da nossa lavoura choveu de 50 dias do início até 50 dias de colheita, choveu todo dia e teve cargas de soja que descontou 99%, sobrou dois quilos de carga de carreta, avariado, com umidade e impureza. Teve carga de 54 mil quilos e sobrou 7 mil quilos, o que foi terrível”, disse.
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A esperança do agricultor era tentar minimizar os prejuízos que teve com a soja com uma boa produtividade na segunda safra de milho. No entanto, a seca que castigou duramente grande parte dos 950 hectares do milharal, semeado com 15 dias de atraso, frustrou as expectativas.
“Onde empossou a água na beira da estrada da última chuva, as espigas ainda estão verdes. No entanto, fora da beira da estrada o milho já está bem seco e as espigas ficaram pequenas, os grãos miudinhos e assim o prejuízo será bem grande. É difícil colher lucro maior nesta safra, assim como não colhemos lucro na safra de soja e agora vamos ter um prejuízo de mais de 20% nos primeiros milhos e mais de 30,40% nos últimos milhos plantados. É muito difícil produzir safra cheia, nem sempre depende da tecnologia, nem sempre depende do plantio, mas sempre depende do clima, o clima precisa estar favorável para produzir safra cheia”, contou.
E os efeitos da estiagem no desempenho das lavouras de milho se confirmam em números. Segundo nova estimativa do Imea, a produtividade média das plantações no estado caiu para 93,8 sacas por hectare, recuo de 7,62% em relação a projeção divulgada no mês passado. São 15,22 sacas por hectare a menos que o volume médio colhido em 2019, o que consolida o pior desempenho desde a temporada 15/16, quando uma seca severa derrubou a produtividade média dos milharais para 73,7 sacas por hectare.
“Os índices pluviométricos foram menores este ano. Também tivemos as chuvas muito espaçadas e agora, no final no momento de enchimento de grãos, mais da metade da lavoura não teve chuva suficiente para encher o grão, a gente acreditava que poderia dar chuvas mas, infelizmente, poucos foram contemplados, alguns produtores tiveram a sorte de chover mas não foram em todas as áreas”, nos conta o vice-presidente da Aprosoja Mato Grosso, Lucas Costa Beber.
Com a quebra da safra, a produção total deve ficar em 32 milhões de toneladas, queda de 9,72% na comparação com a safra passada, quando os produtores colheram mais de 35 milhões de toneladas do cereal. “Nós temos bons preços e a expectativa do produtor era colher bem e vender com um preço melhor do que foi vendido lá atrás. Sabemos que por trás da gente tem uma cadeia e essa falta de milho pode prejudicar a produção de suínos, de aves, então lá na frente a gente pode gerar um problema para os próximos anos, porque a tendência é diminuir o número desses animais a ser abatido e a gente não sabe como vai ser esta demanda nos próximos anos. Gera essa preocupação, pois o importante é quando toda a cadeia vai bem, com equilíbrio, preço justo para o produtor, boa produtividade e também um preço bom para o produtor de aves e suínos”, concluiu Beber.