Produtores rurais de Mogi das Cruzes (SP) pedem desapropriação de terras de mineradora

Empresa exige que agricultores regularizem situação para poder continuar no terreno de mais de 500 hectaresPelo menos 1,5 mil famílias de produtores rurais em Mogi das Cruzes (SP) pedem ajuda do governo federal para desapropriar as terras onde vivem e trabalham e pagar indenização para a empresa proprietária do local. O impasse teve início em 2004, quando a então dona do terreno de mais de 500 hectares, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, vendeu a área para a mineradora Itaquareia.

De acordo com o advogado da companhia, Nilson Franco, na época, ela herdou um passivo de 500 processos contra produtores que trabalhavam na informalidade. Para facilitar a situação, mediante um acordo feito quatro anos mais tarde, os processos foram retirados. Em contrapartida, os produtores deveriam regularizar a situação, o que segundo o advogado, nunca ocorreu. Ele nega o conflito e garante que a empresa não tem interesse em despejar os produtores e sim em regularizar a área que adquiriu por R$ 10 milhões.    

– A gente tem o maior interesse de que o pessoal continue ali. A Itaquareia não precisa daquela área desocupada hoje. A gente precisa que a área continue ocupada, mas regularizada. E que eles cumpram o contrato com a empresa. Falam que a gente não tem documentos, tem sim, tem escritura. Existe condições para a situação ser resolvida – aponta.

Dedicado à causa dos produtores, o ex-prefeito de Mogi das Cruzes e hoje deputado federal Junji Abe (PSD-SP), defende a desapropriação da terra por parte do governo. A mineradora seria indenizada e os produtores permaneceriam com a terra. 

– Se fala tanto em agricultura familiar, se fala em proteger a agricultura familiar, porque são diferentes, são descobertos de políticas públicas. Estes são integralmente sinônimos de agricultura familiar que merece sensibilidade e uma ação rápida do governo. São insuficientes na sua estrutura – afirma.

Já o representante chefe da divisão de obtenção de terras do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em São Paulo, Sinésio Sapucaí Filho, diz que o pedido de desapropriação foi feito para o órgão em Brasília, mas um entrave na legislação impede o avanço do processo.

– Este pedido foi feito com base em uma legislação que não é ordinária para reforma agrária. E no núcleo do governo há hoje uma discussão sobre se é conveniente ao Estado estar aplicando esta legislação não específica de reforma agrária para desapropriar uma área para fins de reforma agrária. É este o dilema que vive hoje o governo federal. Não sendo aprovado este mecanismo, a empresa mineradora vai destruir o solo para fazer mineração. Isto vai comprometer até a segurança alimentar da região metropolitana de São Paulo, que hoje tem mais de 15 milhões de pessoas e que conta com abastecimento muito grande, de excelente qualidade, a 50 quilômetros do local onde é consumido – discorre.