No leste do Estado de São Paulo, os produtores já estão colhendo café. Em uma lavoura em Espírito Santo do Pinhal, no território paulista, a produtividade do café arábica chega em média a 33 sacas por hectare. Com escassez de mão de obra, boa parte da colheita será mecanizada nesta safra. Em uma hora, a máquina faz o serviço de 10 homens. Como nenhum produtor da região pode contar com recursos do fundo de defesa, fica com poucos recursos financeiros para repassar aos apanhadores.
? O produtor que começa a colheita não tem como pagar o apanhador, daí para não ficar devendo para o apanhador, vende logo em seguida o produto que está colhendo, muitas vezes por um preço inferior ? conta o produtor de café Paulo Pascuini.
O produtor fala com experiência de quase 30 anos na atividade. Em 15 hectares ele produz 400 sacas limpas a cada safra, mas tem um custo alto para isso. Este ano ele calcula gastos de pelo menos R$ 100 mil apenas em uma colheita. Diz que consegue manter a safra porque possui outras fontes de renda. Atualmente, se mantém porque possui imóveis alugados na cidade. Afirma que se dependesse de financiamentos para tocar a lavoura estaria quebrado.
? Não é só colher o café. O agricultor tem que sobreviver, tem que sustentar a família, tem que ter os direitos de um cidadão, mas não consegue ter ? desabafa.
Parte do café do agricultor é negociada pela Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Pinhal (Coopinhal), que atende produtores de Espírito Santo do Pinhal e Santo Antonio do Jardim, em São Paulo. O presidente da cooperativa, Alexandre Hüsemann da Silva, conta que nenhum dos 560 cooperados está usando os recursos do Funcafé nesta colheita. Quem precisou de dinheiro para pagar a mão de obra, e pra fazer o custeio da safra, teve que fazer financiamento direto no banco.
? Eu entendo que é mais uma questão de administração do Funcafé, ou seja, onde ele está administrando o produto pronto, em vez de arriscar financiar o custeio ou a colheita, que já causou problema no passado ? explica.
Na agência do Banco do Brasil de Santo Antonio do Pinhal o gerente informou que, todo o produtor que quiser, tem crédito na agência com taxas iguais ao do Funcafé. O banco emprestou para a safra deste ano R$ 15 milhões para despesas de custeio, investimento com taxa de 6,75% ao ano. Foram cerca de 120 contratos para a chamada agricultura empresarial e para pequenos agricultores através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Segundo o gerente da carteira rural do banco, só não foram feitos empréstimos pelo Funcafé, porque o governo não fez o repasse do dinheiro.
O analista de mercado Fernando Barros, diz que a estratégia do banco, de fazer financiamento próprio, pode ser um perigo para o produtor. Este ano, por exemplo, os que estão comprometidos com dívida vão perder a oportunidade de ganhar mais com a melhora na cotação do café. O preço da saca está sendo comercializada atualmente na casa dos R$ 500.
? Quanto mais ele dever, mais ele vai confundir crédito com renda e mais o pessoal vai querer emprestar dinheiro por achar que agora ele está capitalizado. Tem que ir com muita cautela, porque primeiro ele tem que vender por opinião e não por precisão ? esclarece.