? Nós cortávamos, semeávamos, plantávamos milho. Se não tínhamos terra, íamos num vizinho, ele plantava uma roça grande e dividia o milho depois. Agora não pode cortar mais nada. Não sei o que vai acontecer ? conta.
A dúvida de Angelina é a mesma de todos os agricultores da região. Se as mudanças no Código Florestal não forem aprovadas, a fiscalização vai ser intensificada e eles vão ter que parar de produzir no local.
O código atual prevê dois mecanismos de proteção do meio ambiente: a reserva legal e as áreas de preservação permanente (APPs), que são locais frágeis, à beira de rios, nos topos e encostas de morros. A produção de uvas ocupa mais de mil hectares no município de Bento Gonçalves, e dificilmente se encontrar um parreiral que esteja dentro da lei.
? De alguma forma, a topografia dificulta a vida dos produtores. Se tiver alguma coisa em termos de legislação que dificulte mais, aumenta a preocupação. Quem é que terá condições de permanecer produzindo na região? ? questiona o coordenador da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do RS (Emater/RS), Carlos Kurtz.
O projeto que prevê alterações no Código Florestal autoriza o uso de topos de morros e encostas para algumas culturas. A lista de atividades permitidas precisará ser regulamentada por lei. Outra mudança importante será a soma das áreas de preservação permanente com as da reserva legal. A soma das duas pode ser maior ou menor, conforme a região do país.
? Acho que tem que ter um equilíbrio entre o meio ambiente e a sobrevivência do ser humano. O produtor sente necessidade de sempre ampliar um pouco. A característica das colônias da região é que a maioria ocupa seis hectares, contra 34 hectares de mata nativa. Não queremos tirar do meio ambiente. Nós temos que viver com o meio ambiente, de uma forma que tenha sobrevivência para o ser humano também ? desabafa o produtor rural Paulo Ferrari.