Produtores de Uberaba modernizam fabricação de queijo para atender exigências da legislação

Ministério Público da cidade deu prazo até o dia 1º de junho para que as normas sejam cumpridasO município de Uberaba é considerado um polo de vendas de queijo produzido no Triângulo Mineiro.  A tradição de mais de um século está passando pela modernização, atendendo as exigências da legislação para tirar a produção da clandestinidade.

O Ministério Público de Uberaba deu prazo até o dia 1º de junho para que as normas, principalmente de rotulagem e certificação, sejam cumpridas. Os produtores reclamam da falta de orientação na hora de fazer as mudanças. No Estado, menos de 1% das queijarias estão regularizadas. 

O produtor João Ribeiro tem 77 anos e produz queijo há mais de cinco décadas. Para ele, ficou difícil entender tanta mudança, tantas exigências. 

? Com o passar do tempo está ficando mais custoso para a gente. Antigamente, nós fazíamos o queijo e não tínhamos dor de cabeça, não precisava nada disso que vocês estão vendo aqui, como máquinas, estas coisas todas. O queijo sempre foi feito e até hoje nunca tivemos uma reclamação.  Meu gado é mais vacinado que gente, contra tuberculose, brucelose, aftosa e até raiva. ? disse João Ribeiro. 

Mesmo assim, desde 2005, com o estímulo do filho, João Ribeiro tem uma queijaria modelo. Investiu R$ 15 mil em 32 metros quadrados, tudo dentro das exigências, principalmente de higiene.  O último investimento foi no inicio do ano, em uma máquina de embalar a vácuo que custou R$ 5,2 mil mas, agora, descobriu que a lei não exige este tipo de embalagem.  

? Eles exigiram comprar a máquina, aí de repente, no dia que tivemos a reunião com o promotor, ele disse que agora não precisava mais ? falou João Ribeiro.

Pelo menos a novidade foi bem aceita pelos clientes.  O queijo araminho rotulado é feito pela esposa de João, que  gosta da modernização, mas está preocupada com  a exigência de pasteurizar o leite.  A máquina custa mais de R$ 10 mil.

? Um dia quer uma coisa, outro dia quer outra, um dia tem uma reunião, outro dia tem outra, a gente não está sabendo o que vai fazer. Agora tem a máquina de pasteurizar o leite. Já mandamos fazer, mas deu problema no leite. Entra fumaça ? disse Isa Ribeiro, esposa de João.

Minas Gerais tem 30 mil queijarias, mas o Instituto Mineiro de Agropecuária só certificou 170 até agora. As exigências vão desde a sanidade dos animais até a higiene em todo o processo para fabricação do queijo.   São poucos os municípios que criaram um sistema de inspeção que permite a venda dentro da cidade cumprindo as normas, um deles é Uberaba. 

João Jesus da Cunha, outro produtor, começou a construir a queijaria dentro de todas as exigências necessárias em março de 2010 e só conseguiu colocar o primeiro queijo no mercado em fevereiro deste ano. O queijo que ficou na forma de um dia para ao outro vai para a câmara fria por 10 dias, a 11º C. Depois, em outra sala, termina o processo de maturação entre 15 e 30 dias. Mas para chegar nesse ponto, as mudanças foram tantas que o orçamento inicial aumentou em quatro vezes.

? Inicialmente, precisava por azulejo só até dois metros, aí depois foi modificado. Isso tem que colocar na parede toda, e a gente foi adequando da forma que eles foram pedindo. Um empreendimento que ficaria em torno de R$ 30 mil acabou chegando em R$ 120 mil ? disse João Jesus da Cunha.

A fiscalização apertou no inicio deste ano. Foram apreendidos 1,1 mil quilos de queijo em 56 estabelecimentos comercias, principalmente por falta de rotulagem e certificação caracterizando produção clandestina. Uberaba é um polo de vendas, em especial no mercado municipal, que comercializa 40 toneladas de queijo por mês. O secretário de Agricultura, José Humberto Guimarães, afirma que é uma mudança de cultura tanto para os produtores quanto para os consumidores.

? O mercado está exigindo produtos de qualidade com certificado de origem, qualidade e rotulagem. Quem não o fizer, vai fazer pequenas quantidades de queijo e vai vender na vizinhança, mas quem quiser ir para o mercado ganhar dinheiro com queijo vai ter que entrar nas normas ? observou José Humberto Guimarães.