ABERTURA NACIONAL DO PLANTIO DA SOJA

66% dos armazéns nos EUA estão dentro das fazendas; no Brasil, apenas 15%

O déficit de armazenagem foi um dos temas centrais na Abertura Nacional do Plantio de Soja - Safra 23/24, realizado nesta sexta (29), em MT

milho armazenado, armazéns
Foto: Joel Callegaro/ Arquivo pessoal

Durante a Abertura Nacional do Plantio da Soja – Safra 23/24, realizado na manhã desta sexta-feira (29) em Jaciara (MT), o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, lembrou que o Brasil produziu 315 milhões de toneladas de grãos na safra 22/23, sendo 155 milhões apenas de soja, mas o grande problema persiste: falta de armazéns..

Assim, o que poderia ser uma solução para o país, acaba sendo um problema por conta do déficit de armazenagem, superior a 60%. “É um dos principais gargalos do estado de Mato Grosso e do Brasil. No maior estado produtor do país, a capacidade de armazenagem é inferior a 50%”.

Da esquerda para a direita: Wellington Andrade, diretor da Aprosoja-MT; Anelise Marques, diretora- executiva da Casp e Fernando Cadore, presidente da Aprosoja-MT.

Cadore acredita que a disponibilidade de crédito no Brasil não foi constituída para que o produtor tenha armazenagem dentro de sua propriedade. “Se quebra uma correia de uma colheitadeira e o agricultor vai atrás de repô-la, consegue sair da loja com uma máquina nova, mas para construir um armazém não tem, nem de perto, essa mesma facilidade”, ressalta.

Para ilustrar o problema, Cadore traça um paralelo: “Produzir sem ter armazém é o mesmo que possuir uma sorveteria com freezer para apenas 50% dos sorvetes que produz”.

Consciência do produtor

De acordo com o presidente da Aprosoja-MT, o problema passa, também, pela consciência do produtor. “Precisa reduzir a evolução de aquisição de máquinas e pensar em armazenagem. Não adianta ter máquinas novas se o caminhão está na fila de escoamento por falta de lugar para guardar a produção”.

Cadore também ressalta que o governo não pode concentrar a disponibilidade de crédito em apenas uma instituição financeira, o que atrapalha todo o processo.

Dificuldade em acessar crédito para armazéns

Já a diretora-executiva da Casp, Anelise Marques, que também compôs o painel sobre os desafios da armazenagem no Brasil, que faz parte da programação da Abertura Nacional do Plantio da Soja, ressaltou que o produtor não consegue acessar o crédito pelo excesso de burocracia e, também, pelo custo-Brasil.

“A taxa de juros para infraestrutura de armazenagem nos Estados Unidos é de 3,6%. No Brasil, quando o produtor consegue um índice de 8,5% é um milagre. Não temos uma política séria de desburocratização de acesso ao crédito para esse problema”.

Segundo ela, nos Estados Unidos, 66% dos armazéns estão nas fazendas. No Brasil, apenas 15%. “O produtor que armazena na fazenda tem liberdade econômica”.

Para Anelise, a cada Plano Safra anuncia-se recorde de recursos, mas o dinheiro não chega na ponta. “Os produtores, sejam pequenos, médios ou grandes, têm dificuldade para acessar esse crédito. Acredito que há boa vontade e discurso desse atual governo, mas, na realidade, no dia a dia, o dinheiro não chega”.

Segundo ela, o produtor rural se esforça a cada dia para conseguir aumentar a produtividade em uma saca de grão por hectare, mas na hora de escoar o país perde 36 milhões de toneladas por falta de armazéns.

Assista a Abertura Nacional do Plantio da Soja – Safra 23/24 na íntegra: