A Bahia foi o primeiro estado brasileiro a romper uma importante marca: média superior a 4 mil quilos de soja por hectare. Isso aconteceu na safra 2020/21 e, desde então, os produtores de lá sempre estiveram na dianteira quando o assunto é produtividade.
No entanto, a falta de chuva nos meses de novembro e dezembro de 2023 atrasaram a semeadura e causaram replantio em diversas áreas. Além disso, a restrição hídrica em momentos essenciais à cultura já dão sinais de comprometimento da produção.
O 4º Levantamento da Safra de Grãos, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta quarta-feira (10), aponta que os baianos devem perder o posto de campeões de rendimento de sacas de soja nesta temporada.
Segundo o documento, a queda de produtividade no estado tende a chegar a 8,7%:
- Partindo de 4.020 kg/ha (67 sacas) em 22/23
- Para 3.671 kg/ha (61 sacas) em 23/24
A projeção da entidade mostra que a Bahia deve ter redução de 4,8% na produção:
- De 7.717,2 milhões de toneladas em 22/23
- Para 7.343,1 milhões de toneladas em 23/24
Neste ciclo, o estado deve semear soja em dois milhões de hectares, enquanto na campanha anterior o espaço dedicado à oleaginosa foi de 1.919,7 milhão de hectares.
Poderia ser pior
O engenheiro agrônomo e pesquisador Luis Kasuya, que trabalha no oeste baiano há mais de 30 anos – região que concentra 99% da produção de soja do estado – acredita que o clima adverso desta safra poderia ter causado impactos ainda piores na produção se não fosse por uma técnica específica de manejo.
“Os profissionais que tecnificaram a agricultura baiana décadas atrás perceberam que para suportar os veranicos, as altas temperaturas e a pouca chuva registrada em alguns períodos do ano era preciso fazer perfil de solo”.
Desta forma, começou-se a colocar em profundidade ingredientes benéficos às plantas.
“Temos áreas na Bahia cujas análises de solo mostram bons níveis de nutrientes, principalmente cálcio e boro, em até 80 cm de profundidade. Desta forma, a planta não busca somente água, mas também ingredientes fundamentais ao seu desenvolvimento”, explica o engenheiro.
O foco em cobertura de solo com gramíneas é outro ponto essencial à construção da fertilidade do solo, avalia Kasuya. “Fazemos isso muito bem aqui na Bahia”. Para ele, outro ponto que beneficia a região oeste do estado é a altitude.
“A região está situada entre 750 a 1.000 metros de altitude. Isso significa que de manhã a temperatura é alta e à noite, esfria. Assim, a planta trabalha de dia e metaboliza o que ingere à noite. Como chove pouco, temos muita luz. Como passamos por muitas dificuldades, fomos aperfeiçoando o manejo”, considera.
Novo campeão em produtividade de soja
O atual levantamento da Conab indica a Bahia apenas na terceira posição entre os estados com maior nível de produtividade de soja:
- Santa Catarina: 3.787 kg/ha (63,1 sacas)
- Paraná: 3.724 kg/ha (62 sacas)
- Bahia: 3.671 kg/ha (61 sacas)
Já o Rio Grande do Sul, que deve reassumir o posto de segundo maior produtor de soja do país, atrás apenas de Mato Grosso, com 21.887,8 milhões de toneladas, tem rendimento médio projetado em 3.280 kg/ha (54,6 sacas).