A história do produtor rural Pablo Schmidt Rosa, de Mangueirinha (PR), é parecida com a de muitos outros. Filho de produtor, estudou e se formou como engenheiro agrônomo. Além de cultivar a oleaginosa em 25 hectares do pai, Daniel Rosa, também ajuda outros familiares vizinhos. Ele mostrará como está se desenvolvendo as lavouras de sua região, as dificuldades e acertos comuns de quem vive a cultura todos os anos.
O Projeto Soja Brasil vai mostrar como a soja se desenvolverá nesta localidade e para isso serão apresentados detalhes sobre o manejo, as condições climáticas e o desenvolvimento agronômico desse plantio. A cada semana novos capítulos serão acrescentados à história contada por Pablo, além de fotos e vídeos. Vamos acompanhar esta soja?
Tem história nova lá no final da página, bora ler?
O Plantio
(de 9 a 15 de setembro)
O vazio sanitário no Paraná acaba no dia 10 de setembro e como o clima colaborou, nas áreas que Pablo cuida a semeadura da soja aconteceu exatamente neste dia, em sistema de plantio direto, após a colheita do feijão. A palhada remanescente não é tão abundante, porque a família optou por não colocar a aveia (como de costume), como cultura de cobertura.
“Os custos já estão bastante altos este ano por conta do dólar. E como se trata de uma agricultura familiar, optamos por não fazer essa cobertura”, diz Pablo.
A semente da soja de ciclo normal foi inoculada e recebeu tratamento com fungicidas e inseticidas e aplicada no solo com uma plantadeira de oito linhas, em quatro dias de trabalho, já que terreno é íngreme, possui pedras e é dividido em 4 glebas (talhões). O solo não precisou de correção e foram acrescentados a ele 205 quilos de adubo de base por hectare.
Do dia 9 a 15 de setembro, Pablo contabilizou chuvas de 22 milímetros acumulados na região. Já as temperaturas foram amenas variando de 12 a 25 graus.
“Se for analisar esse não é o momento ideal para o plantio da soja, pois as horas de luz ainda estão curtas e a temperatura segue mais baixa que o ideal. Mas a opção foi plantar antecipadamente para garantir o plantio do milho safrinha na sequência”, diz Pablo.
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Milhares de pontos verdes despontam
(de 16 a 22 de setembro)
Exatos dez dias após o início do plantio, dia 17, a cena encontrada por Pablo no campo é aquela que todo o produtor tem orgulho e se emociona, milhares de pontinhos verdes riscam o campo de forma vigorosa, trazendo o otimismo que a safra será muito boa. Segundo o produtor a germinação foi boa e com as plantas apresentando potencial para excelentes condições.
“É muito gratificante ver a cultura em pleno desenvolvimento. Ver aquelas sementes brotando vida e despontando. As expectativas são grandes em relação ao potencial de produção. A germinação foi bem sucedida, apesar de existir uma porcentagem da área com plantas duplas, devido um problema causado pelo excesso de velocidade no plantio”, comenta Pablo.
Nas fotografias tiradas pelo produtor de Mangueirinha (PR) é possível notar as tais plantas duplas que ele cita. Ele sabe que plantar com velocidades acima de 6 quilômetros por hora causa problemas.
“Quando o implemento passa da velocidade ideal para o plantio causa essa má distribuição da semente. Por isso tem plantas juntas e falhas. O certo é não fazer assim já que este agrupamento gera disputa por espaço e nutrientes, diminuindo o potencial de produção. Mas presto serviço aos meus vizinhos e eles queriam economizar tempo e combustível, que está caro”, comenta.
Pablo ressalta que a agricultura familiar é bem menos tecnificada que a em grande escala e muitas vezes é difícil convencer o dono da área que economizar no plantio pode gerar perdas na colheita. “Para alguns não importa se vai plantar a 5 km ou a 10 km, mas sim se vão economizar em hora do operador e combustível que custava R$ 2,80 no ano passado e agora está R$ 3,50 por litro”, conta.
O regime de chuvas de 16 a 22 de setembro foi de 87 milímetros acumulados, divididos em três dias. As temperaturas variaram de 12ºC a 25ºC até o dia 20, depois disso o tempo esquentou e chegou a atingir 35ºC.
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Chuvas, erosões e plantas daninhas
(de 22 a 29 de setembro)
É uma unanimidade entre os produtores a felicidade causada pela chegada das chuvas após o plantio da soja. Ela traz a certeza que as plantas se desenvolverão com qualidade neste que é considerado o período mais crítico. Nas propriedades que Pablo ajuda a cuidar água não faltou. Do dia 19 a 24 de setembro a região de Mangueirinha recebeu 82 milímetros acumulados, que segundo o produtor nem é um grande volume para a época.
“A chuva que caiu nem foi tão grande assim. Tivemos uns 35 milímetros acumulados em um dia e uns 37 em outro. Isso seria bom de maneira geral, mas em uma parte da área gerou escorrimento superficial”, diz Pablo. Veja o vídeo abaixo da área afetada!
Uma das razões apontadas por Pablo para o problema é justamente a falta de uma palhada volumosa na área, ainda efeito daquela decisão inicial de não fazer a cobertura com aveia (Veja no capítulo inicial “O Plantio”), para evitar elevação de custos.
“Ali teremos um prejuízo, isso é certo. Ainda é cedo para dizer quanto, pois mais à frente outras intempéries podem acontecer, mas ali terá uma perda com certeza”, conta ele.
Para piorar um pouco mais as coisas, a falta de palhada na área também trouxe outro problema que pode ampliar as perdas: o aparecimento de plantas daninhas. “Devido o solo estar exposto aos raios solares diretamente, isso estimulou a germinação de sementes dormentes de ervas daninhas”, afirma Pablo.
A planta daninha encontrada é o Azevém, considerada um problema pelo produtor, pois ele é resistente ao glifosato e não foi eliminado na dessecação da área. “Agora ele está lá no meio da soja causando competição pelos nutrientes do solo. Mais uma dor de cabeça para a produção final”, diz. Confira no vídeo abaixo!
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Já tem praga na lavoura – Parte 1
De 29 de setembro a 6 de outubro
Sabe aquela resteva de feijão que fica no campo após a colheita? Pois bem, ela nem bem serviu como palha para proteger o solo do excesso de chuvas e agora trouxe outro problema para o produtor Pablo Schmidt: as pragas. Nas fotos que ilustram este capítulo (abaixo) aparece um bezourinho verde com nome bem sugestivo – Diabrotica Speciosa, ou como é conhecida popularmente, Vaquinha.
“Ali foi colhido o feijão e a área ficou 90 dias abandonada, praticamente. Ai só se cria o que não presta, né?. Planta daninha, insetos e doenças”, diz ele.
Pablo conta que ao chegar a área para uma ronda habitual, notou que a área foliar das plantas apresentavam perfurações. Naquele momento não teve dúvida e iniciou logo uma vistoria para encontrar a causa do problema. Ali percebeu de que se tratava da tal vaquinha. “A infestação era bastante grande, a soja estava foi bem atacada. Eram muitos insetos por metro quadrado”, conta.
Segundo a Embrapa, os adultos das vaquinhas causam desfolha durante todo o ciclo da cultura, reduzindo a área fotossintética. Os danos mais significativos ocorrem no estágio de plantas recém-emergidas, como na área de Pablo, pois podem consumir as folhas ainda novas. A entidade ressalta que se ocorrer altas populações de insetos e não controle a planta irá morrer.
O ataque se mostrava tão severo que Pablo já estudava fazer o controle químico no dia seguinte à descoberta. Mas as chuvas daquela semana (mais de 88 milímetros acumulados), que traziam preocupação de novas erosões, ajudou a segurar o avanço da praga. “Com a chuva o próprio inseto busca proteção e acaba gerando menos danos. Com isso foi esperado a chuva parar para poder entrar na área para realizar o controle do inseto”, afirma.
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Já tem praga na lavoura – Parte 2
De 7 de outubro a 13 de outubro
Ainda choveu no dia 7 de outubro, Pablo contabilizou pelo menos 30 milímetros acumulados. Mas depois disso, o tempo secou e o solo pode se recuperar um pouco. o Produtor esperou ainda mais 3 dias (até o dia 10 de outubro) para o solo argiloso secar que e finalmente poder colocar o pulverizador em campo para se livrar, não só da diabrótica (vaquinha), mas também das ervas invasoras, citadas nos capítulos acima (Chuvas, erosões e plantas daninhas).
O trabalho de pulverização, “realizada em um maquinário com cabine e uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI)), fez questão de destacar, durou dois dias: 10 e 11 de outubro. Nos tanques com 600 litros de capacidade foram misturados o glifosato para combate as plantas daninhas e um inseticida para as pragas.
“Coloquei os produtos misturados com água, conforme recomendação das embalagens. A mistura foi feita no próprio tanque, com ajuda da bomba d’água. Isso com uma vazão de 125 litros por hectare de calda”, conta Pablo.
Apesar do pouco tempo, o combate da vaquinha parece ter dado certo e Pablo não encontrou muitas vivas nas plantações. “Elas são de fácil controle. Ainda assim é preciso fazer, pois se a população cresce demais, os danos podem ser irreversíveis”, diz o produtor.
Parece que a janela de tempo aberto não durou muito tempo e dois dias depois da última pulverização, no dia 13, voltou a chover forte em mangueirinha e os acumulados superaram os 80 milímetros.
“Já estou um pouco preocupado com as plantas. Com vários dias de tempo nublado, chuvoso e temperaturas abaixo do ideal, as plantas de soja estão com dificuldade para se desenvolverem, não estão crescendo como deveriam”, relata. “Agora vamos torcer para o clima colaborar um pouco, né.”
Fim das plantas invasoras
De 14 de outubro a 20 de outubro
Depois de uma semana complicada, devido as muitas chuvas e a dificuldade em fazer a aplicação dos agroquímicos para combater a infestação de vaquinhas e plantas daninhas, as coisas começam a melhorar nas áreas de soja que Pablo ajuda a cuidar. A boa notícia é que as diversas ervas invasoras foram dizimadas e a plantação poderá usufruir exclusivamente de todos os nutrientes do solo.
O produtor fez questão de identificar e fotografar cada uma das plantas daninhas da área, até para saber se as mesmas acabam retornando à área posteriormente. Veja abaixo o que ele encontrou:
Corda-de-viola (Ipomoea purpurea)
Capim Milhã (Digitaria horizontalis)
Segundo Pablo as invasoras são sempre as mesmas, por mais que controle elas retornam safra após safra. “Olha, o tipo de planta é sempre o mesmo, o que muda é a quantidade que aparece, que é sempre maior”, diz.
Nesta semana choveu um acumulado superior a 67 milímetros acumulados, ainda atrapalhando o desenvolvimento das plantas. “Crescimento está um pouco lento. Ainda tudo como o planejado, pois quando plantamos sabíamos que o plantio mais cedo teria esse risco”, conta Pablo.
Pragas vão, mas doenças aparecem
De 21 a 27 de outubro
O Paraná segue regado por muitas nuvens e chuvas nesta temporada. Pablo não se atreve a reclamar da chuva, mas ela tem trazido dor de cabeça em alguns momentos. Inicialmente ela atrapalhou a pulverização contra as plantas invasoras e pragas (veja acima no capítulo “Já tem praga na lavoura”) que surgiram e, agora, a umidade está criando um ambiente favorável para o aparecimento de algumas doenças.
Por conta do clima chuvoso, o produtor de soja já vinha alertando para o retardamento no desenvolvimento das plantas. Para se ter uma ideia, choveu 30 milímetros no dia 24, 3 milímetros no dia 25 e 40 milímetros no dia 26, sendo que os demais dias ficaram nublados
“Após 47 dias do plantio, foi observado o aparecimento da doença fúngica Oídio (erysiphe diffusa). Ela se dá devido a essa baixa luminosidade. Nas fotos coletadas é possível notar o sintoma típico do Oídio – uma camada esbranquiçada de micélio e esporos”, diz Pablo.
Segundo o produtor, o controle da doença não é complicado, mas ele depende do clima (mais uma vez) para entrar na área e fazer as aplicações. “A ideia é entrar com a pulverização para controle na próxima semana, isso se as chuvas permitirem, né”
O tempo passa e a soja finalmente desenvolve
De 28 de outubro a 24 de novembro
Após o surgimento do oídio, as aplicações de fungicidas para combater esta doença e também se precaver contra a ferrugem asiática, dependiam exclusivamente de uma trégua das chuvas, que aconteceu. Já logo no início da semana, o produtor Pablo pode entrar e fazer a segunda aplicação (a primeira foi feita no início de outubro). Os trabalhos foram realizados em dois dias, em 30 de outubro (depois choveu de novo) e no dia 2 de novembro para finalizar.
Os resultados ainda demoram a acontecer completamente, já que as plantas se recuperam aos poucos do oídio. “A planta precisa se curar do oídio ainda, demora um pouco. O bom é que a doença não se espalhou mais e agora esperamos que as afetadas tenham pouca ou nenhuma sequela”, diz.
As lavouras que Pablo cuida finalmente emendaram um bom desenvolvimento, após o retardo inicial causado pelo excesso de umidade e falta de luz. “Agora as plantas conseguiram atingir um desenvolvimento satisfatório e a recuperação plena a ponto de nos trazer uma boa produtividade já é uma realidade”, conta Pablo.
As linhas, que antes pareciam nunca fechar, em duas semanas transformaram aquele terreno em um grande tapete verde e agora, a soja está terminando o estádio reprodutivo para iniciar o enchimento dos grãos. “Essa nova etapa é a mais crítica da cultura, pois qualquer estresse extremo pode gerar perdas significativas na produção final. A falta de chuvas, por exemplo, é um fator que preocupa a partir de agora. Vale a torcida para que o clima continue nos ajudando”, afirma Pablo.
Soja Brasil vai até Mangueirinha
De 25 de novembro a 1 de dezembro
A curiosidade de acompanhar uma lavoura de soja desde o plantio até a colheita levou o Projeto Soja Brasil a conhecer o produtor Pablo Schmidt Rosa, de Mangueirinha (PR)
Para chegar a Mangueirinha (PR), partindo de São Paulo (onde fica o Canal Rural), eu Daniel Popov, editor do Projeto Soja Brasil, fiz uma longa viagem. Desembarquei em Ponta Grossa e contei com a carona de outro amigo de lá, Abimael Gonçalves, o Bima, que é gerente de uma fazenda da região, para rodar mais de 300 quilômetros e chegar até o sítio de Pablo.
Continue lendo esse capítulo especial aqui!
Reality Soja Brasil: Pablo prevê perdas na soja por conta da seca
De 2 de dezembro a 5 de janeiro
As primeiras semanas de dezembro foram realmente desafiadoras para o produtor Pablo. Uma onda de calor e tempo seco que já rondava o Paraná, chegou ao município e causou estragos nas lavouras plantadas mais cedo. Para piorar, agora, às vésperas da dessecação, as precipitações voltaram e não dão trégua.
Até o fim de novembro as lavouras que Pablo cuida estavam vistosas e com a perspectiva de boa produtividade, acima de 62 sacas por hectare na média. Mas essa realidade começou a mudar no mês seguinte.
Nos primeiros dias de dezembro, a soja que Pablo semeou começava a encher os grãos, ao mesmo tempo que a ferrugem asiática ganhou força no país e no estado. Até ali mais de 60 casos já haviam sido reportados, boa parte no Paraná. Mangueirinha havia relatado um caso da doença em meados do dia 27 de novembro e o produtor não queria arriscar.
“Aproveitei que não chovia há dois, ou três dias, para entrar com as aplicações de fungicidas. Um produtor da região tem um coletor de esporos e até ali o aparelho não havia registrado muitos esporos, mas já tinha alguma coisa. Preferi prevenir”, afirma Pablo.
Dali para a frente começou a agonia. No estado, a cada dia mais casos de lavouras secando completamente apareciam e as lavouras de Pablo começavam a apresentar sinais de problemas. As temperaturas não ficavam abaixo dos 30ºC, sendo que vários dias superaram a casa dos 38ºC. “As folhas começaram a secar rapidamente, os grãos não enchiam mais e algumas plantas até abortaram as vagens, uma tristeza”, diz.
Essa estiagem durou até pelo menos o dia 15 de dezembro. Mas ali, parte da área semeada por Pablo já não se recuperou mais. “O final do enchimento dos grãos aconteceria ali em meados do dia 10 de dezembro e só foi chover depois do dia 15. Eu não queria desanimar meu primo Juarez Alberti, dono de parte da terra que plantei, mas agora acredito que com muita sorte colheremos 45 sacas por hectare”, conta Pablo.
Volta das chuvas
Sabe aquela expressão muito usada para definir coisas que dão errado? A tal Lei de Murphy? Pois é, não se trata disso, mas bastou a soja não ter como se recuperar que as chuvas voltaram. Do dia 15 até 30 de dezembro choveu 143 milímetros acumulados. Ainda assim não foi a tempo de recuperar parte da produtividade.
“Bem que aquela chuva poderia amenizar pelo menos em relação ao peso dos grãos, mas não se acontecer não será significativo, pois a planta não voltou para terminar seu ciclo. A soja já estava condenada”, resumiu Pablo.
Dessecação
A perspectiva agora é que as áreas que Pablo cuida começarão a ser colhidas. Mas para variar o clima não está colaborando. A dessecação que seria realizada no primeiro fim de semana deste ano, não aconteceu por conta de uma chuva persistente de 70 milímetros.
“Agora estamos monitorando o tempo, para ver quando poderemos entrar para dessecar. Parte ainda está um pouco verde a ideia era secar a soja para emparelhar tudo”, conta. “Se parar esta semana, já entramos dessecando e depois de 5 dias entramos colhendo.”
Reality Soja Brasil: expectativa era colher 70 sacas por hectare, mas só veio metade
Quando começamos a contar a história do produtor rural Pablo Schmidt Rosa, de Mangueirinha (PR), não poderíamos imaginar que ela representaria as reviravoltas vividas todos os anos por milhares de agricultores. O reality do Soja Brasil surgiu da ideia de acompanhar de perto uma lavoura comum e entender todos os desafios enfrentados até a colheita da soja. De setembro a janeiro Pablo passou da expectativa de colher mais de 70 sacas por hectare, com a lavoura se desenvolvendo muito bem, para a decepcionante marca de 39 sacas por hectare. Entenda como tudo aconteceu e os detalhes desta jornada bastante habitual para quem vive da agricultura.