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Fernanda Farias, repórter Expedição Soja Brasil

Conversar com estranhos é o que eu faço todos os dias. É o meu trabalho. E de estranhos, alguns passam a ocupar espaços importantes na vida. E durante as viagens do Soja Brasil, conhecemos muitas pessoas e histórias interessantes.

Um senhor de 81 anos ganhou um espaço no meu coração hoje. Ele não era uma fonte e não tinha obrigação nenhuma de dar ouvidos pra uma estranha que passou na frente da farmácia dele que já estava fechando. Foi em Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul, um dos destinos da nossa equipe. A pouca iluminação e os armários de madeira me chamaram a atenção. Há quanto tempo existe essa farmácia? Perguntei diretamente. Muito antes de você nascer…

Seu Pedro Malagoli se formou farmacêutico na USP em 1953, saiu de São Paulo em 1956 e abriu a primeira farmácia de Sidrolândia. Até hoje, receita remédios, faz curativos, trata de graça doentes que não podem pagar. Ele gerou dois filhos, adotou um, tem dez netos e seis bisnetos. E mais de cinqüenta afilhados – que ele ajudou a trazer ao mundo, porque também foi parteiro. Diz que é muito feliz, mas sente muita falta da sua “veinha”, que partiu há 2 anos, depois de 59 anos de casamento. “Nunca brigamos, fia. Nunca dormimos separados depois de discutir, fia”.

Foram 30 minutos de conversa em que eu descobri tantas coisas da vida desse velhinho que não cabem aqui. Não sei se são os hormônios ou a idade que fazem a gente valorizar mais os breves instantes como esse, mas a nossa conversa me emocionou. Saí da farmácia segurando o choro, depois de um caloroso abraço de despedida. E resolvi dividir com quem tiver paciência de chegar até aqui. Ouça mais. Sinta mais. A vida tá aí.

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