Agricultores de Mato Grosso reclamam da burocracia e da baixa oferta de recursos oficiais para a construção de armazéns. A falta de espaço para guardar as produções de soja e milho é um problema recorrente no estado.
O agricultor de Canarana, João Paulo, por exemplo, enfrenta dificuldade na hora de negociar a produção de cada safra. Ele não possui armazém próprio na fazenda. Aliás, existem poucas unidades armazenadoras no município, carência que causa transtornos e desvalorização do grão, refletindo direto no bolso do produtor.
“Uma [dificuldade] é o frete. Você depende de mais caminhão para puxar, e o frete fica mais caro, porque caminhão que podia fazer duas viagens no dia, acaba fazendo só uma e, às vezes, nem uma no dia faz, por causa das filas, porque demora as descargas. Às vezes também atrasa um pouco a colheita e você acaba perdendo; às vezes vem chuva e a soja acaba perdendo peso, qualidade, muitos descontos, porque se colhe na hora certa vem menos. Se tivesse um secador, a gente ganhava uns 10% a mais em cima do produto”, destaca.
Alternativa
Em Querência, município vizinho de Canarana, um grupo de pequenos e médios produtores encontrou uma alternativa para driblar a falta de armazéns e garantir melhores preços na hora de comercializar a safra: agir coletivamente. O agricultor Adelir Peter é um dos sócios e comemora os resultados alcançados.
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“É um grupo de associados que construiu esse armazém e, dependendo da área de cada um, cada um tem as suas cotas. Cobra-se uma taxa para a manutenção do armazém, e aí fica com o produto disponível tanto soja, quanto o milho. Praticamente o custo que se cobra a gente ganha no preço, porque se vende em quantidades maiores, faz um lote de soja e milho para vender e se consegue agregar um valor melhor. Quem já tem condição de plantar mais área, com certeza vai partir para esse lado de construir armazém, porque hoje o produtor tem que ficar com o produto disponível, porque, se depender das tradings, eles judiam muito dos produtores nos preços”, explica.
Pequenos e médios são prejudicados
Mato Grosso responde por 22,2% da capacidade de armazenagem instalada no país. São 2.211 unidades no estado. Juntas, podem guardar mais de 38 milhões de toneladas. Porém, de acordo com a Aprosoja, apenas 30% das estruturas estão nas mãos dos produtores rurais.
“Quem tem menos armazenagens são, justamente, os pequenos e médios agricultores. Devido a essa falta de armazéns e dificuldade ao crédito, muitas vezes o produtor acaba terceirizando principalmente nos lugares mais remotos do estado, onde tem maior deficiência de logística e que tem maior oferta de armazéns, o produtor acaba pagando mais caro na prestação de serviços de armazenagem, muitas vezes pagando mais do que ele pagaria na parcela da construção do seu próprio armazém. Isso é muito preocupante. O produtor precisa ter o seu armazém, precisa ter a sua segurança, onde vai estar protegendo a sua colheita e melhorando a sua renda com o produto dentro da propriedade”, considera o vice-presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber.
Para incentivar a construção de armazéns nas propriedades, foram destinados no último anúncio do Plano Safra mais de quatro bilhões de reais em linhas de créditos para financiamento. O volume é 1,9 bilhão maior do que o obtido na safra anterior, mas ainda insuficiente, segundo o setor produtivo.
“Apesar da gente quase dobrar os recursos do plano safra para armazenagem, tivemos um aumento nos insumos para construção de armazéns, no aço e em outros itens. Então praticamente não compensou pela inflação. Falta recursos, é necessário aumentar ainda mais. Temos pedido sempre mais recurso junto ao Ministério da Agricultura, também ao Ministério da Infraestrutura e, acima de tudo, também é necessário desburocratizar e facilitar o acesso a esse tipo de crédito. Às vezes o produtor gasta mais com armazenagem do que se ele investisse no próprio armazém”, destaca Beber.
Resposta Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
Nos três primeiros meses do Plano Safra 2021/22 (julho/agosto/setembro), foram, efetivamente contratados, ao amparo de recursos do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), R$ 596 milhões. Esse valor corresponde a 14% do total programado para o ano-safra (1º de julho de 2021 a 30 de junho de 2022) de R$ 4,14 bilhões.
Há uma quantidade significativa de operações em processo de análise nas instituições financeiras, o que fez com que muitas suspendessem o acolhimento de novas propostas. Segundo as instituições, o volume de recursos a serem absorvidos por essas operações já compromete o total disponibilizado, independentemente do momento em que serão contratadas.
Na medida em que a demanda por financiamento de investimentos está aquecida em praticamente todos os programas, possibilidades de remanejamento para um determinado programa somente serão avaliadas a partir do momento em que a contratação efetiva observada nesse programa se aproximar do teto disponibilizado para o mesmo e se houver perspectivas de subutilização nos demais programas.