O mercado de fungicidas multissítios, caracterizados pela proteção por contato, aumentou significativamente de tamanho, de acordo com o estudo FarmTrak Soja, da consultoria Kynetec Brasil, divulgado nesta segunda-feira (4).
Conforme o levantamento, a crescente preocupação do produtor em controlar a ferrugem asiática e outras doenças economicamente relevantes da cultura da soja explica o fenômeno.
Entre as safras 2018/19 e 2022/23, as transações envolvendo esses produtos avançaram 218%, de R$ 1,2 bilhão para R$ 3,8 bilhões.
Adesão aos multissítios
Conforme a Kynetec, a adesão aos multissítios chegou perto de 80% da área plantada de soja na safra 2022/23, indicador que era de 5% no ciclo 2014/15 e de 44% no em 2018/19.
“A pesquisa registra a consolidação do subsegmento. Multissítios estão hoje na relação de insumos estratégicos para a sojicultura”, resume o gerente de contas da consultoria, Lucas Alves.
Segundo ele, a categoria de fungicidas como um todo, porém, caiu para a segunda posição em valor: R$ 18,9 bilhões ou 33% do mercado de defensivos na soja, que apurou cerca de R$ 57 bilhões. “Pela primeira vez na série histórica, herbicidas lideraram as vendas, com R$ 20 bilhões ou 36% do total.”
Entretanto, de acordo com o executivo, essa mudança no ranking não deve persistir. “A expectativa é a de que os fungicidas retomem a ponta”, salienta Alves.
“Herbicidas tiveram desempenho mais elevado, sobretudo, em virtude de aumentos nos preços e restrições verificadas na oferta recente por determinados produtos”, justifica.
“Fungicidas foliares, historicamente, representam aproximadamente 40% das vendas de defensivos para soja, ao passo que herbicidas se situam na faixa de 22%”, continua.
Para a consultoria, o preço dos herbicidas deve retornar aos mesmos patamares de safras anteriores já no ciclo 2023/24.
Doenças da soja e manejo de resistência
Alves enfatiza que nas últimas safras o segmento de fungicidas foliares – especificamente os multissítios – cresceu expressivamente porque o produtor intensificou a adoção de tais insumos nas estratégias de controle da ferrugem asiática, bem como na prática do manejo de resistência.
Assim, alternam-se aplicações de diferentes ingredientes ativos para evitar que patógenos causadores de doenças desenvolvam resistência a fungicidas.
“A utilização dos multissítios se dá normalmente em conjunto com fungicidas sistêmicos, como as carboxamidas, estrobilurinas e triazois”, salienta Alves.
Conforme o executivo, pesou ainda no crescimento das vendas de multissítios a entrada de produtos ready mix, aqueles formulados em fábrica e dotados, simultaneamente, de propriedades sistêmica e multissítio, “produtos à base de mancozeb, clorotalonil, cobre e outros compostos”.
Doenças que eram secundárias
Os ready mix, de acordo com Lucas Alves, responderam por 40% do mercado de fungicidas multissítios na safra 2022-23: R$ 1,52 bilhão.
“Em área tratada (PAT), produtos de concentração sistêmica e multissítio ainda têm menor representatividade ante o restante do segmento, contudo entregam o benefício de dispensar misturas em tanques”, ele observa.
Alves acrescenta ainda que o FarmTrak Soja 2022-23 trouxe à luz a tendência de o produtor intensificar nas próximas safras o controle de outras doenças da soja, antes consideradas secundárias.
“A ferrugem segue como prioridade, mas o sojicultor tem olhado cada vez mais para o ‘complexo de doenças’, incluindo a mancha-alvo no Cerrado e o oídio no Sul, além de, mais recentemente, para as chamadas anomalias da soja”, exemplifica.