Pesquisadores relatam, com base numa vasta revisão de literatura, que o uso de consórcios microbianos oferece benefícios significativos para o crescimento das plantas, superando os métodos tradicionais de inoculação de espécies únicas.
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Estudos recentes revelaram que a combinação de diferentes microrganismos, como Bradyrhizobium e Pseudomonas oryzihabitans, resultou em um aumento de 11% no rendimento de soja, comparado às plantas tratadas individualmente.
Essa abordagem também promoveu um crescimento mais robusto das raízes e uma melhor acumulação de nutrientes.
Algodão também se beneficia
Além disso, explica o pesquisador da Universidade Federal de Lavras (UFLA) Peterson Nunes, consórcios envolvendo quatro fungos micorrízicos (Funneliformis constrictum, F. mosseae, Gigaspora margarita e Rhizophagus irregularis) e o fungo Beauveria bassiana, encontrados no solo, demonstraram melhorias significativas no crescimento do algodão.
Essas combinações não só aumentaram os conteúdos de proteínas e carboidratos nas plantas, mas também reduziram os parâmetros de crescimento de uma praga, a lagarta.
A sinergia entre diferentes cepas de Beauveria resultou em 100% de mortalidade de outra praga, a traça. Da mesma forma, um consórcio de duas cepas de B. bassiana mostrou maior eficácia contra as larvas da lagarta.
Mitigação de estresses
Pesquisas adicionais indicam que os microrganismos podem ser eficazes na mitigação de estresses abióticos das plantas, incluindo os provocados por metais pesados, pelo déficit hídrico e pela salinização do solo.
Para o analista da Embrapa Meio Ambiente Gabriel Mascarin, os micróbios benéficos têm um papel fundamental na agricultura moderna, atuando como biopesticidas, bioestimulantes e biofertilizantes. Eles também contribuem para a saúde e sustentabilidade das culturas, alinhando-se com os princípios da agricultura regenerativa.
A utilização de microorganismos na agricultura está ganhando reconhecimento por suas vantagens potenciais, como estabilidade em diferentes condições ambientais e redução nos custos de aplicação. Essa abordagem também aumenta a biodiversidade microbiana na rizosfera e filosfera das plantas (referentes aos ambientes próximos às raízes e ao redor da planta, respectivamente), contribuindo para um ecossistema mais equilibrado.
Microorganismos contra resíduos
Alguns estudos recentes indicam que os consórcios microbianos podem até ajudar na redução de resíduos de pesticidas. Um consórcio de Aspergillus versicolor e bactérias isoladas de lodo de esgoto mostrou maior eficiência na degradação de moléculas de carbendazim e tiametoxame.
Da mesma forma, um consórcio bacteriano composto por Pseudomonas plecoglossicida e dois isolados de Pseudomonas aeruginosa degradou inseticidas organofosforados de forma mais eficiente do que quando aplicados individualmente.
A combinação de diferentes microrganismos também demonstra benefícios no controle de doenças de plantas e promoção do crescimento. Em testes com grão-de-bico, a combinação de Purpureocillium lilacinum e Rhizobium sp. forneceu proteção superior contra o nematoide Meloidogyne javanica e promoveu um crescimento mais vigoroso das plantas.
Tratamento com biopesticidas
No Brasil, líder global na produção e uso de agentes de controle biológico, mais de 70 milhões de hectares foram tratados com biopesticidas em 2022. A crescente oferta de produtos biológicos contendo múltiplas espécies ou cepas destaca a importância e o potencial dos consórcios microbianos na agricultura, de acordo o pesquisador da Embrapa Wagner Bettiol.
“Esses avanços apontam para um futuro em que a agricultura de precisão e a gestão holística da fitossanidade se tornam cada vez mais viáveis”, acredita Nunes.
“Além disso, os consórcios microbianos podem oferecer uma solução sustentável para a resiliência às mudanças climáticas, melhor ciclagem de nutrientes e redução do impacto ambiental na agricultura. À medida que a tecnologia de consórcios microbianos continua a evoluir, espera-se que ela desempenhe um papel cada vez mais importante na produção agrícola sustentável”, destaca o pesquisador.
Entre os 480 produtos biodefensivos registrados em 2023 no Brasil, 83 foram formulados com combinações de microrganismos.
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