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“Não tem mais terra no Brasil”

A frase dita pelo coordenador do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite) da Embrapa, Evaristo Miranda, durante palestra na Abertura Nacional da Colheita de Soja, explica o fato de o país não ter mais áreas não ocupadas, livres para a agricultura

Daniel Popov, de São Paulo
É comum ouvir em palestras do agronegócio, ou mesmo em apresentações comentando a possibilidade do Brasil se tornar o principal produtor de alimentos do mundo, a justificativa de que há terreno para expandir as plantações. Segundo o coordenador do Gite, Evaristo Miranda, isso é pura especulação. Não existem terras sem atribuição no país mais. “Não tem mais terra no Brasil. Dou risada quando vejo palestras do agronegócio, que o pessoal fala que tem. Acabou, não tem nada”, diz o representante da Embrapa. “Onde é que tem terra? Me avisa que eu estou interessado. Nem no Matopiba tem mais.”

Miranda explica que o governo brasileiro já atribuiu todas as terras do país. Para índios, caso mais comum de ver, mesmo que tenha alguma propriedade por ali. Ou para preservação ambiental com unidades de conservação. O governo também atribuiu terra para a reforma agrária, ao todo foram mais de 89 milhões de hectares para assentamentos onde estão 890 mil famílias sediadas. Além de outros dois milhões de hectares para os quilombolas. “Em dezembro de 2016, fechamos um levantamento de que 37% do país está legalmente atribuído pelo governo federal. Não se planta soja ali”, conta ele.

O resultado disso tudo? Um engessamento da estrutura fundiária do país. O executivo cita o exemplo do Amapá e de Roraima, onde mais de 60% das terras estão atribuídas pelo governo federal. “Enfim, temos uma espécie de federalização já que se concentra o controle do território na mão do governo federal. Isso é um peso enorme para alguns estados, pois sobra pouco para a agricultura”, destaca Miranda.

Levando em consideração os pedidos gerais pelo país, para criação de mais parques, reservas entre outros, o Brasil teria que atribuir mais 33% de terras, somando 70% de todo o território. “Não que isso vá acontecer, mas é o que o povo esta pedindo”, explica o coordenador. “Não digo que não seja justo e ou ilegítimo. Mas não cabe. Não dá, fisicamente, para atender todo mundo.”

Vale ressaltar que a agricultura ocupa apenas 8% do território nacional. A pecuária detém 19% do território, e os complexos industriais, cidades e construções outros 14%. “Toda essa agricultura que ouvimos falar, produção de mais de 100 milhões de toneladas de soja, milho, laranja, café, cana-de-açúcar . . . Tudo em 8% de área. Imagina se tivéssemos 20%, teríamos uma produção três vezes maior”, diz ele.

O Brasil tem 61% de sua vegetação nativa preservada, ou seja, mais da metade do território nacional segue intocado. Não há nenhum país que preserve tanto para biodiversidade. Em uma comparação rápida Miranda separou 9 países, com mais de 2,5 milhões de quilômetros quadrados cada um, e nenhum preserva mais de 10% da área. “Nós temos 30% e ainda nos criticam”, desabafa.

Miranda ressalta o importante papel dos agricultores brasileiros na produção de alimentos e na adequação de suas terras, para atender a lei. “É fantástico o que fazemos no país. Acredito que Cadastro Ambiental Rural (CAR) vai mostrar que os produtores preservam com vegetação nativa mais que os 11% estimados hoje”, conta Miranda. “O produtor pode sentir orgulho do que faz hoje e da sua profissão. Independente do que escolas de samba ou desinformados digam.”

Ainda assim, Miranda não cogita, nem de longe, a possibilidade de ampliação de área sobre reservas indígenas, ou de vegetação nativa. Para ele, o caminho mais sustentável e economicamente viável é o crescimento vertical da produção. Como? Com irrigação, que possibilitaria fazer três ou quatro colheitas por ano. “A irrigação pode significar um avanço gigantesco diante das incertezas climáticas. Com isso, temos muito para ganhar em produção e produtividade na agricultura”, finaliza o coordenador do Gite da Embrapa, durante a palestra no evento que marcou a Abertura Nacional da Colheita de Soja – Safra 2016/2017, que aconteceu em Ponta Porã (MS), nesta quinta (26).

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