A Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) discutiu os subsídios para a revisão do padrão oficial de classificação da soja e de seus subprodutos em reunião desta segunda-feira (9). O tema está em consulta pública e previsto na Portaria nº 532/2022, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
No entanto, de acordo com o presidente da Comissão, Ricardo Arioli, o ponto de maior atenção no momento é que a China também está revisando o seu padrão de soja para compra. “O país asiático ingressou na Organização Mundial do Comércio (OMC) há, mais ou menos, um ano, encaminhando uma nova proposta de classificação”, explica.
Assim, para Arioli, o que está em jogo é muito mais do que uma classificação brasileira, visto que o maior comprador da soja brasileira também está requerendo mudanças. “Temos de alinhar estas duas questões dentro da revisão que o Mapa está propondo”, enfatiza.
Dentro das demandas chinesas está a redução do índice de umidade dos grãos de 14% para 13%. “Há vantagens na questão do frete, da qualidade dos grãos armazenados, já que é muito melhor armazenar grãos com uma umidade menor porque eles duram por mais tempo e isso é muito bom para toda a cadeia, não apenas para os produtores. No entanto, se abrirmos mão de 14% para 13% sem negociar com as tradings e a indústria um pagamento pela matéria seca, perderíamos 1,15% na receita. A discussão é bastante complexa e todo mundo tem de estar alinhado para que todos saiam contentes com a revisão deste padrão”, destaca.
Grãos de soja ardido
O presidente da Comissão lembra que existe um grande problema em termos de classificação de grãos no Brasil, principalmente no que se refere ao maior estado produtor, o Mato Grosso. “Por lá, a colheita [da soja] é feita, geralmente, em época de chuva e quando isso acontece, como neste ano, o produtor não concorda muito com os descontos. Então precisamos modernizar a nossa classificação. É um ponto de discórdia dos produtores do Brasil inteiro com as tradings a respeito de como a soja é classificada, então vem bem a calhar a discussão proposta pelo Ministério da Agricultura”, diz.
Arioli destaca que o Brasil, como maior produtor de soja do mundo, tem de estar alinhado às demandas dos clientes para continuar fornecendo o grão de qualidade a todos os seus clientes, mas sem prejuízos ao produtor. “Na questão dos ardidos, por exemplo, existem estudos dizendo que, mesmo sendo um grão parcialmente deteriorado – no entender da classificação de hoje – tem valor comercial porque acaba virando óleo e farelo. Depois de um determinado percentual, o produtor não recebe nada por aquilo e isso também precisa ser discutido porque, de qualquer forma, o grão ardido vai para o mercado”, considera.
Para ele, é compreensível que o óleo fica mais caro para a indústria, já que ela precisa corrigir a acidez e que o farelo pode acabar perdendo qualidade. “Mas estes subprodutos têm um valor. Hoje os produtores são descontados em 100% e o pior: enviamos o grão ardido acima de 8% de graça até o porto porque não se paga nada por aquele desconto que foi feito dentro da propriedade porque é impossível separá-lo da massa de grãos, então é uma discussão bem oportuna e complexa e a gente espera discutir este problema com toda a cadeia de produção de soja e, claro, com o nosso maior comprador, que é a China”, finaliza.