Entre novembro e março, período de maior incidência da lagarta-da-soja devido ao tempo seco, os produtores de soja precisam redobrar a atenção no manejo da praga, que pode causar sérios prejuízos à produtividade. De acordo com Samuel Roggia, pesquisador da área de entomologia da Embrapa Soja, a principal prática de manejo para o controle da lagarta-da-soja tem sido o uso de cultivares de soja transgênicas, especialmente as variedades Bt.
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A importância da soja Bt
A soja transgênica Bt, que contém proteínas tóxicas para certas pragas, incluindo a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), é uma das ferramentas mais eficazes no controle dessa praga. Existem três gerações do tipo no mercado, com a primeira geração sendo a mais amplamente adotada. ”Em anos recentes, a utilização extensiva de soja Bt tem mostrado bons resultados no controle da lagarta-da-soja, que teve sua incidência significativamente reduzida”, afirma Roggia.
Além da lagarta-da-soja, o Brasil também enfrenta desafios com outras pragas secundárias, como a lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens), que ocorre de forma regionalizada, e outras espécies como Spodoptera eridania e Spodoptera cosmioides. Embora essas lagartas não sejam controladas pelas variedades Bt, seu impacto é geralmente menor, e a ocorrência varia conforme a região e o ano.
Pesquisador detalha o monitoramento
O pesquisador explica que, mesmo que as cultivares de soja Bt sejam eficazes no controle das principais lagartas, o monitoramento contínuo das lavouras é essencial. Roggia destaca a importância de realizar uma amostragem semanal das lavouras, mesmo para as variedades não transgênicas. ”O monitoramento não deve ser visual, mas sim detalhado, para identificar corretamente a espécie da lagarta e decidir qual estratégia de controle adotar”, alerta.
O monitoramento também é fundamental porque, em muitos casos, as lagartas podem ser atacadas por vírus, fungos ou predadores naturais. Quando a população de lagartas é baixa, é recomendável evitar a aplicação de produtos químicos, o que permite que os controles naturais façam seu trabalho.
Níveis de tolerância da soja
Uma das questões mais importantes no manejo de lagartas é entender os níveis de tolerância da soja à desfolha. Antes do florescimento, a soja pode tolerar até 30% de desfolha sem perda significativa de produtividade. Após o florescimento, esse nível de tolerância cai para 15%.
“Mesmo que a soja apresente algum nível de desfolha, ela ainda pode produzir normalmente, desde que dentro dos limites de tolerância”, explica Roggia. Em muitos casos, o agricultor pode passar o ciclo da soja sem precisar realizar aplicações de controle de lagartas, desde que o monitoramento seja rigoroso e as populações de pragas não atinjam níveis críticos.
Pragas secundárias
O agricultor também deve estar atento às pragas secundárias, como a lagarta helicoverpa, mais comum em regiões produtoras de algodão. Embora a incidência ainda seja restrita a algumas áreas, o manejo dessa praga exige cuidados específicos, especialmente em lavouras de soja de alto potencial produtivo.
Quanto à rotação de culturas, o pesquisador destaca que ela tem um impacto limitado no controle das principais lagartas da soja, uma vez que essas pragas são, em sua maioria, específicas dessa cultura. A exceção é a lagarta-do-cartucho do milho, que, em algumas regiões, pode também afetar a soja.
Controle químico e biológico
Em casos de infestações mais graves, o uso de produtos químicos e biológicos pode ser necessário para o controle eficaz das lagartas. O pesquisador ressalta que a aplicação deve ser feita preferencialmente nas fases iniciais de desenvolvimento das pragas, quando são mais vulneráveis.
“O uso de produtos biológicos, como bactérias e vírus, tem se mostrado eficaz no controle de lagartas jovens. Além disso, há uma variedade de produtos biológicos no mercado, que devem ser selecionados conforme a espécie de lagarta presente na lavoura”, explica o especialista.
A identificação precisa da praga é importante, já que nem todos os produtos biológicos são eficazes para todas as espécies de lagartas. “A escolha do produto adequado e o monitoramento constante são passos essenciais para um manejo eficiente”, conclui o pesquisador, que reforça a importância do acompanhamento contínuo por parte do produtor para garantir o sucesso do controle e preservar a produtividade da lavoura.